terça-feira, 8 de setembro de 2020

É correto dizer namorar com?

 1) Quer no sentido de desejar ardentemente algo, quer no significado de cortejar, galantear, trata-se de verbo transitivo direto (construído sem qualquer preposição). Ex.: "O rapaz namorou a vizinha durante dois anos".


2) Atente-se a que não admite ele a mesma regência verbal de casar, não aceitando, assim, ser construído com a preposição com, razão pela qual é errônea a frase: "O rapaz namorou com a vizinha durante dois anos".


3) Nessa mesma esteira, observem-se particularmente as construções errôneas com os pronomes comigo, contigo e consigo que, etimologicamente, trazem implícita a preposição com. Assim a frase "Você quer namorar comigo?", conhecido quadro de um programa de auditório, deve ser corrigida para "Você quer me namorar?".


4) Veja-se, em confirmação, que, para Luís A. P. Vitória, trata-se de "verbo transitivo direto" e "não admite, pois, a preposição com, a não ser em comédias. Estrangeirismos só devem ser usados na linguagem da informática, da internet e do mundo dos negócios".1


5) Vitório Bergo o insere no rol daqueles verbos que merecem especial cuidado quanto à regência: namorar, e não namorar com.2


6) Ronaldo Caldeira Xavier, fundando-se em lição de Hildebrando Affonso de André, insere a expressão namorar com alguém no rol dos italianismos a serem evitados e aconselha sua substituição por namorar alguém, recomendando-se a construção vernácula.3


7) Atento à linguagem forense, Edmundo Dantès Nascimento aponta erros de regência desse verbo até mesmo em sentenças de anulação de casamento ou de separação judicial, com o emprego da preposição com ("Namorava com ele"), alertando que o correto é Namorava-o.4


8) Anote-se que, em lição não aplicável à norma culta, Evanildo Bechara ressalta seu uso coloquial com a preposição com, "influenciado talvez pela regência de casar e noivar. O mesmo ocorreu com o implicar em, no sentido de acarretar, produzir como consequência, pressupor, influído talvez pela regência de resultar, redundar, reverter e importar. Originalmente, implicar em só era admitido no sentido de envolver, enredar ou comprometer".5


9) De igual modo, Aires da Mata Machado Filho, sem explicação alguma nem abono de autor autorizado, observa de modo simplista e telegráfico: "Usam-se as duas regências".6


10) Silveira Bueno, contrariando entendimento majoritário e alegando inexplicáveis questões de "psicologia do verbo", aduz que tal vocábulo traduz "ação que requer companhia, e a preposição adequada é com".7


11) Após citar lição de Silveira Bueno no sentido da possibilidade de emprego da sintaxe namorar com, acrescenta Luciano Correia da Silva "outro fato, que determina usos e costumes em nossa língua: a analogia. A analogia com os verbos casar com e noivar com, vizinhos de namorar, pode ter influído para que tivéssemos o namorar com, mais visto no Rio, Norte e Nordeste".8


12) Celso Pedro Luft também considera normal o emprego da regência namorar com, argumentando com a existência da idéia de companhia, de encontro.9


13) A par do fato da inexistência de cunho científico para tal proceder, todavia, acresce observar que Francisco Fernandes, em postura mais harmônica com a tradição e com a ciência, cita diversos exemplos, ora tendo o verbo como intransitivo, ora como pronominal; em momento algum, todavia, cogita da estrutura namorar com.10


14)Ante tais considerações, o melhor posicionamento continua sendo empregá-lo simplesmente como verbo transitivo direto, sem possibilidade de regência com a preposição com, no que concerne aos textos que devam submeter-se ao padrão da norma culta.

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