Já tratamos do processo de Prefixação, mostrando como esse processo derivacional é importante e enriquece o léxico português. Olhando para a ponta esquerda da base lexical, temos os prefixos, na outra ponta da palavra, temos os Sufixos. Neste artigo trataremos dos processos que envolvem a Sufixação e algumas implicações.
O que são Sufixos?
Vimos que os prefixos ainda guardam algum resquício de sentido da palavra original, adicionando essa informação à nova palavra base, o sentido da palavra primitiva, os sufixos, vazios de significação, têm por finalidade formar séries de palavras da mesma classe gramatical. Assim, por exemplo, o único papel do sufixo ez é criar substantivos abstratos, tirados de adjetivos: altivo — altivez; estúpido — estupidez; malvado — malvadez; surdo — surdez, etc.
Principais Sufixos
SUFIXOS LATINOS
ADA (forma substantivos de substantivos): boiada, colherada, facada, laranjada, marmelada, meninada, noitada, pedrada, pincelada, risada.
AGEM (forma substantivos de substantivos): aprendizagem, estiagem, ferragem, folhagem, malandragem, vadiagem.
AL (forma adjetivos e substantivos de substantivos): genial, mortal, pessoal; areai, arrozal, bananal, pantanal, roseiral.
ANO, ÃO (forma adjetivos de substantivos): americano, mundano, republicano, romano, serrano; beirão, comarcão, cristão, vilão.
ÃO (ampliado em alhão, arrão, eirão, zarrão, figura na formação do aumentativo): casarão, chapeirão, grandalhão, homenzarrão, toleirão, santarrão.
ARIA, ERIA (forma substantivos de substantivos): alfaiataria, cavalaria, drogaria, feitiçaria, luvaria, maquinaria, pedraria, pirataria, rouparia. Na linguagem brasileira de nossos dias, têm eria as seguintes palavras: bateria (importada do francês), correria, galeria, leiteria, loteria (importada do italiano), parceria, sorveteria.
ÁRIO, EIRO, A (forma substantivos de substantivos): boticário, campanário, estatuário; barbeiro, cajueiro, galinheiro, nevoeiro, toureiro; cabeleira, cigarreira, pedreira, pulseira.
ATO, ADO (forma substantivos de substantivos): baronato, sindicato, tribunato; arcebispado, apostolado, bacharelado, condado, consulado, principado. Ado é o representante vernáculo de ato.
DADE (forma substantivos de adjetivos): bondade, castidade, cristandade, crueldade, dignidade, divindade, facilidade, falsidade, maldade, ruindade.
DOR, TOR, SOR (forma substantivos de verbos): acusador, armador, carregador, comprador, corredor, pescador, roedor, salvador; instrutor, tradutor; ascensor, confessor.
DURA, TURA, SURA (forma substantivos de verbos): assadura, atadura, ditadura, fechadura, urdidura; assinatura, abertura, cobertura, escritura; clausura, mensura.
EAR (forma verbos de substantivos): barbear, cartear, golpear, guerrear, pastorear, rodear, vozear.
ECER (forma verbos de substantivos): amanhecer, amarelecer, anoitecer, entardecer, escurecer, favorecer.
EDO (forma substantivos de substantivos): arvoredo, lajedo, olivedo, passaredo, rochedo, vinhedo.
EJAR (forma verbos de substantivos): cortejar, gotejar, lacrimejar, manejar, velejar, voejar.
ENSE, ÊS (forma adjetivos de substantivos): ateniense, cearense, paraense, parisiense, vassourense, vienense; cortês, montanhês, montês, português.
EZ, EZA (forma substantivos de adjetivos): altivez, estupidez, malvadez, sensatez, surdez; beleza, certeza, moleza, rudeza, tristeza.
FICAR (forma verbos de substantivos e adjetivos): exemplificar, petrificar; dignificar, falsificar, purificar.
CIE, ICE (forma substantivos de adjetivos): calvície, planície, criancice, doidice, meninice, tolice, velhice.
IO (forma substantivos de substantivos): mulherio, poderio, rapazio, senhorio.
ITAR e INHAR (formam verbos de substantivos): saltitar, cuspinhar.
IVO (forma adjetivos de verbos): afirmativo, comparativo, fugitivo, lucrativo, pensativo.
MENTO (forma substantivos de verbos): casamento, cerceamento, conhecimento, esquecimento, fingimento, impedimento, pensamento.
OSO (forma adjetivos de substantivos): cheiroso, famoso, garboso, gostoso, montanhoso, orgulhoso, teimoso, volumoso.
TÓRIO, DOURO (forma substantivos de verbos): dormitório, laboratório, oratório, purgatório; ancoradouro, bebedouro, matadouro, sorvedouro. O sufixo erudito tório ainda forma adjetivos:
divinatório, notório, satisfatório, transitório.
TUDE, DÃO (forma substantivos de adjetivos): altitude, amplitude, latitude, longitude; certidão, escuridão, frouxidão, lassidão, mansidão, vastidão.
UDO (forma adjetivos de substantivos): beiçudo, bicudo, cabeçudo, carnudo, narigudo, peludo, sisudo.
URA (forma substantivos de adjetivos): amargura, brancura, doçura, frescura, loucura, ternura.
VEL, BIL (forma adjetivos de verbos): amável, desejável, discutível, louvável, removível, solúvel, suportável; flébil, ignóbil. Ainda hoje figuram tais formas nos superlativos eruditos (amabilíssimo, terribilíssimo) e nos substantivos abstratos derivados de muitos adjetivos (amabilidade, volubilidade).
SUFIXOS GREGOS
IA: astronomia, filosofia, geometria, energia, eufonia, profecia.
ISMO: aforismo, cataclismo, catolicismo, comunismo, jornalismo.
ISTA: catequista, evangelista, modernista, nortista, socialista.
ITA: eremita, jesuíta, israelita, selenita.
ITE: bronquite, colite, dinamite, rinite.
IZ(AR): batizar, catequizar, realizar, rivalizar, suavizar. Não confundir com os verbos cujo radical termina em iz (ajuizar, de juiz; enraizar, de raiz), ou em is (avisar, de aviso; alisar, de liso; encamisar, de camisa).
OSE: esclerose, osteose, tuberculose.
TÉRIO: batistério, cemitério, necrotério.
SUFIXOS DE OUTRAS PROCEDÊNCIAS
1) Ibéricos
EGO: borrego, labrego, pelego.
EJO: andejo, animalejo, lugarejo, quintalejo.
ITO, A: cabrita, casita, Anita.
ORRA: cabeçorra, machorra, manzorra.
2) Italiano
ESCO: dantesco, gigantesco, parentesco.
3) Germânicos
ARDO: felizardo, moscardo. Aparece em alguns nomes próprios: Bernardo, Leonardo, Ricardo, e em nomes comuns, como bastardo, de conotação ofensiva.
ENGO: mulherengo, realengo, solarengo, verdoengo. Com a forma engue figura em perrengue.
4) Tupi
RANA: caferana, sagarana.
5) De origem desconhecida
AMA: dinheirama, mourama.
ANCO, A: barranco, pelanca, potranca.
ASCO, A: pardavasco, verdasca.
EBRE: casebre.
ECO, A: jornaleco, livreco, padreco, soneca.
ICO: burrico.
OTE: filhote, pequenote, serrote, velhote.
Questões importantes
De certa maneira, há sufixos especiais que dão informações específicas sobre Tempo, Modo, Número e Pessoa gramatical. Também chamados de Desinências, esses tipos de morfemas apresentam duas informações específicas: Sufixo Modo-Temporal (SMT) e Sufixo Número-Pessoal (SNP). Esses sufixos verbais merecem tratamento diferenciado e serão abordados em outro artigo.
Lemle (2002) estudou os sufixos -ejar, -ear, -izar, -ecer, -fazer e -ficar. Note-se que são sufixos alocados entre a raiz e as desinências verbais. A autora trata particularmente de cada um, discutindo: quais deles podem ser considerados verbalizadores; quais os critérios de seleção semântica restringem a combinação entre raízes e sufixos; qual seria o princípio de conexão entre a semântica e se a sintaxe interfere na (in)transitividade do verbo derivado.
Lemle (2002, p. 322) conclui da seguinte maneira:
Morfemas categorizadores de verbo são -ece, -iza e zero.
Resgatar em Hale e Keyser a preposição nula parece útil para entender propriedades de regência, propriedades aspectuais e propriedades das seleções de novos morfemas categoriais.
Aspecto não é um morfema, mas um resultado interpretativo.
Operações semânticas como mudança de tipo operam na derivação on-line e têm efeito no prosseguimento da computação. Os domínios que restringem essas operações é uma questão que deverá ser aprofundada. Nominalizadores são sensíveis a aspecto quando este é sintaticamente expresso, ainda que apenas como resultado da computação semântica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário