Há duas semanas atrás eu relembrei aqui no blog sobre os últimos dias de exibições das séries de anime (Shurato e YuYu Hakusho) e tokusatsu (Jiraiya e Maskman) na Manchete/TV!. Querendo ou não, esse tipo de programa sempre foi o carro-chefe da programação dos Bloch. Principalmente se tratando do núcleo infanto-juvenil da emissora. Então, neste sábado (15) a RedeTV! estreou. Ou seja, são 15 anos sem Rede Manchete. Vamos voltar no tempo mais uma vez e fazer um tour e entender como era o início da emissora que substituiu diretamente a emissora carioca mais querida de todos os tempos e passar pela recente programação de animes e tokusatsu.
No dia 12 de novembro de 1999 - sexta-feira, sintonizei a TV! (lê-se mesmo como: RedeTV!) à noite para assistir o Primeira Edição (então outrora chamado de Jornal da Manchete). Já que as séries japonesas desapareceram, eu só tinha este programa como opção em meio a tantos infomerciais jogados na programação. (Sim. Tinha que me atualizar, pô!) Tomei um susto, pois ao invés do Jornal aparecia uma mensagem como aquela de fundo verde lá em cima dizendo assim: "faltam 03 dias para o início de uma nova era da televisão brasileira". Obviamente, me caiu a ficha de que a programação oficial da RedeTV! estava pra começar no feriado da Proclamação da República e a essência da Manchete, de fato, tinha desaparecido de vez.
No sábado, 13 de novembro de 1999, aparecia a tal mensagem apontando faltar 2 dias para a inauguração da nova emissora - exatamente como na imagem do topo. A cada 15-30 minutos, surgia este vídeo (alternado com as chamadas de cada programa) que veremos a seguir:
Deu pra sentir a diferença? Pois bem. Inicialmente a RedeTV! tinha a proposta de ser uma "alternativa de qualidade" e fugir das mesmices da TV aberta. E realmente era fora do comum. Como um garoto de apenas 14 anos e viciado em TV, acompanhei tudo. Parei mesmo o sábado e o domingo daquele fim de semana prolongado pra conferir tudo sobre a então mais nova rede de TV do Brasil. No domingo acontecia o mesmo esquema referido daquele sábado. A diferença é que o contador regressivo fazia a cronometragem de horas/minutos/segundos/milésimos de segundo que faltavam pra inauguração da RedeTV! O tempo apontava a estreia para começar exatamente às 7:00 da manhã do dia seguinte. (Nota: aqui em Fortaleza, seguíamos o horário de verão naquela temporada) O único programa que foi exibido neste período foi Show Business, apresentado por João Dória Júnior, das 22:00 às 23:00. Vale lembrar que este programa estreou na Manchete em 1996 e permaneceu por alguns anos na RedeTV!. Atualmente é exibido na Band.
Curiosidade: Programação inaugural da RedeTV!
Segunda à sexta
7h - BrasilTV!
7h30 - Galera da TV (reprise)
9h30 - A Casa é Sua
12h - RTV!
13h - Jeannie é um Gênio
13h30 - A Feiticeira
14h - Interligado
15h - TV Magia
17h - Galera da TV!
19h - TV Fama
20h - Superpop
21h30 - Jornal da TV!
22h15 - TV! Economia
22h30 - Te Vi na TV (segundas)/Cine Total (de terça à sexta)
Sábado
12h - RTV!
12h45 - Te Vi na TV (reprise)
14h15 - Interligado
15h - TV Magia
17h - Galera da TV!
19h - TV Fama
19h30 - Friends
20h - Superpop
21h30 - Jornal da TV!
22h15 - TV Terror
Domingo
12h - Conexão Gospel
13h - TV Fama
13h30 - Friends
14h - TV Escolha
20h - Bola na Rede
22h - Leitura Dinâmica
22h30 - Show Bussines
23h30 - TV Arte
Andréia Sorvetão apresentava o
infantil Galera da TV (Foto: Divulgação)
Então, acordei às 6:30 da manhã pra ver a estreia. Fiz questão de presenciar isso em casa. Exatamente às 6:59:30 - faltando exatos 30 segundos para o lançamento, surgiu uma chamada do bloco Série Especial, que apresentava as séries clássicas Jeannie é um Gênio e A Feiticeira. Pontualmente às sete horas surgia a vinheta de jornalismo da RedeTV! e em seguida começava o telejornal matinal BrasilTV! (extinto em 2003), apresentado pelo jornalista Júlio Mosquéra. Em sua bancada, ele anunciava a estreia oficial da nova emissora.
A programação matinal seguiu com o Galera da TV (extinto em 2001), apresentado pela ex-Paquita Andréia Sorvetão. O horário oficial era às 17h e com reprises na manhã seguinte às 7h30. Lembro que no dia da inauguração o episódio inédito foi exibido pela manhã e foi reprisado por duas vezes. Obviamente no fim de tarde e na manhã seguinte para fazer jus ao formato estabelecido para a programação.
Enfim, seguia também o programa feminino A Casa É Sua (extinto em 2006). Inicialmente o programa, que era de mesmo nome de um antigo programa da Globo e foi apresentado pela jornalista Valéria Monteiro. Dois meses após a estreia, o programa foi apresentado pelo trio Sônia Abrão, Meire Nogueira e Castrinho. Curiosamente, este último apresentava paralelamente na Record o seu personagem Geraldo na Escolinha do Barulho. A melhor fase do A Casa É Sua foi sem dúvida quando o saudoso Clodovil Hernandes assumiu o comando entre 2003 e 2005 com seu jeitão polêmico e desbocado. Após a saída do estilista, o programa sofreu instabilidades de escala e passaram por lá Ronaldo Ésper (de janeiro a maio de 2005), Liliane Ventura (ficou apenas uma semana na atração), Monique Evans (maio a agosto de 2005) e Marisa Carnicelli (agosto de 2005 a abril de 2006). Foi substituído pelo A Tarde é Sua, no mesmo horário de seu antecessor.
Jeannie é um Gênio (I Dream of Jeannie; 1965-70)
A Feiticeira (Bewitched; 1964-72)
Ao meio-dia ia ao ar o jornal RTV! (extinto em 2003), que era apresentado pelos âncoras Florestan Fernandes Jr. e Cláudia Barthel, diretamente do Rio de Janeiro. Curiosamente, a dupla de jornalistas vieram da extinta Manchete.
Seguiam também as séries Jeannie é um Gênio e A Feiticeira entre 13h e 14h. Mas a dobradinha teve maior projeção no ano seguinte quando migrou para o horário nobre (20h-21h), antecedendo a famosa novela colombiana Betty, a Feia no mesmo horário.
As tardes tinha o programa Interligado (primeira fase extinta em 2003 e retornou entre 2009 e 2011 como um call-TV), apresentado por Fernanda Lima, que veio de sua fase inicial na televisão pela extinta MTV Brasil, e nem sonhava em apresentar o famigerado Amor & Sexo, da Rede Globo. O programa basicamente era voltado ao público jovem e apresentava videoclipes das atrações pop do momento. Teve maior projeção com a substituição da modelo Fabiana Saba, que veio pra reformular a atração e transformou-a no Interligado Games. O meio da tarde seguia com a sessão de filmes TV Magia, que era algo como um "Cinema em Casa" ou uma "Sessão da Tarde" do canal. E por fim vinha a edição inédita do Galera da TV.
Qual delas é a melhor apresentadora do Superpop? (Foto: Divulgação)
As noites começavam com o famigerado TV Fama, que começou fazendo reportagens sobre artistas medianos. Mais famigerado ainda, pois a apresentadora Mariana Kupfer não levava jeito pra coisa. Suas passagens eram muito secas. Resultado: o programa ficou no ar por apenas três semanas. (!) Voltando mais tarde em julho de 2000 com a fase atual. O TV Fama ganhou maior projeção no comando de Paulo Bonfá e Monique Evans. Só firmou mesmo com a chegada de Nelson Rubens ("Ok ok!") e ao seu lado já passaram várias apresentadoras, como a ex-BBB Iris Stefanelli, que retornou recentemente ao tabloide eletrônico de fofocas. Nas primeiras semanas da RedeTV, seguia o mesmo estilo do Zapping da Record News e do Vitrine da TV Cultura.
Bom, um dos programas mais legais da grade era o Superpop. Acredite e não se espante pela afirmação, pois a qualidade do programa de auditório era um pouco melhor do que atualmente. Melhor dizendo, era menos pior. O comando era da Adriane Galisteu, que também vinha da extinta MTV Brasil. Tinha lá umas entrevistas bacaninhas e tal, mas nada de tão espetacular. Mas era legal. Um mês depois da estreia, o Superpop perdeu 30 minutos por cortes de funcionários. Adriane mudou-se para a Record no final de 2000, onde passou a apresentar o barulhento É Show. Em seu lugar no Superpop estiveram a dupla Fabiana Saba e Otávio Mesquita, que hoje apresenta o Operação Mesquita no SBT, mas não convenceram no comando. Houve uma votação para escolher a nova apresentadora do Superpop e a escolhida foi, nada mais e nada menos que Luciana Gimenez. Nem preciso comentar sobre o programa, pois já tivemos tempos em que o diário marcou zero em audiência. Hoje o programa é um desvirtuamento de valores éticos.
João Kléber e seu programa Te Vi na TV foram umas das
primeiras atrações do dia de lançamento da RedeTV! (Foto: Divulgação/RedeTV!)
As noites seguiam com o excelente Jornal da TV! (extinto em 2005) com a dupla de jornalistas Augusto Xavier (hoje no investigativo Documento Verdade) e Lilian Fernandes (hoje na Globo com o programa de empreendedorismo dominical Pequenas Empresas & Grandes Negócios), também herdados da Manchete. Era meio que um Jornal da Manchete de cara nova. O noticiário atualmente vigora sob o título RedeTV! News. Logo em seguida vinha o TV Economia (extinto em 2000) com a jornalista Denise Campos de Toledo, também vinda da Manchete, com foco nas cotações e indicadores econômicos.
Como retorno da comédia nas segundas-feiras, após o fim de Viva o Gordo (apresentado por Jô Soares) em 1987 pela Globo, a RedeTV! contava com o Te Vi na TV com João Kléber. Confesso pra vocês que era o meu programa favorito da emissora. Isso porque eu era muito embalado por programas humorísticos da época. Era um stand-up simples/modesto onde apresentava o João fazendo suas imitações e personagens. Tinha também a dupla C1 e C2 fazendo suas macacadas e a Banda Karnak. O programa também trazia outros humoristas para participações. O ponto culminante do Te Vi na TV foi quando João lançou a personagem Charlotte Pink no final de janeiro de 2000. Trata-se de uma drag queen que apresentava um talk show e entrevistava artistas. Como Carlos Alberto de Nóbrega, por exemplo. Lembro-me que tomei um baita dum susto e não parei de rir quando vi João encarnando um travesti de rosa-choque. ("Mona! aaaaahhhh...") Detalhe é que a personagem era tratada como uma pessoa desassociada à imagem de João Kléber. Tanto é que João e Charlote apareciam como eles "próprios" na vinheta comemorativa dos 4 meses da emissora, junto com demais artistas da casa. Coisas de televisão, né?
Charlote Pink, a pessoa que
não era João Kléber
O programa ficou chato de vez quando abandonou o formato stand-up comedy pra dar lugar ao tenebroso Teste de Fidelidade. Das comédias saíram C1 e C2, as imitações, as participações humorísticas, etc. Mudou até de nome: Eu Vi na TV (:P). Não é errado dizer que a RedeTV! começou a perder seu referencial quando o programa de João Kléber passou a ter cunho tremendamente apelativo. Se o programa era bom pela tosquidão, ficou da pior qualidade. A mudança foi viral para a emissora. Quanto à Charlote Pink, seu quadro virou praticamente um bacanal e um sex shop. Prefiro nem comentar. Pulando a parte de que o Teste de Fidelidade tinha como atração o bombadão ("Eu sou um ator. Você me respeite!") Marcos Oliver, o Eu Vi na TV saiu do ar por decisão judicial em novembro de 2005 e deixou uma herança maldita para a qualidade do canal. Bem merecido para um programa que fugiu do seu foco original. O horário foi cedido para entidades sociais durante dois meses, de dezembro de 2005 a janeiro de 2006.
Voltando aos tempos de "ingenuidade" da RedeTV!, de terça à sexta havia a sessão Cine Total, apresentado pelo crítico de cinema Rubens Ewald Filho. O bloco era uma espécie de "Intercine" do canal pro telespectador ligar e escolher qual filme desejava assistir à noite. Seguindo este mesmo modelo, havia também a sessão tripla TV Escolha nas tardes de domingo. Também apresentada por Ewald Filho. Outro destaque das sessões de filmes era o TV Terror nas noites de sábado. Era praticamente frequente a presença do personagem Jason Voorhees com a clássica série de filmes Sexta-Feira 13. Aos sábados havia a exibição do sitcom Friends com dublagem carioca. As reprises aconteciam nos domingos à tarde.
Jason arrepiava as noites de sábado com o TV Terror
Deu pra perceber que a RedeTV! começou muito bem e desandou com o passar de seu primeiro ano. Mudanças de seus programas, adesão à baixarias e coisas do gênero. Totalmente diferente de quando começou. Sim, a Geração Manchete sentiu falta daquelas séries japonesas na programação diária desde então. Infelizmente não havia interesse da então nova rede de TV do Brasil para este nicho. Apesar disso, incontestavelmente havia boa qualidade naquele humilde começo.
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