quarta-feira, 27 de junho de 2018

Classes Invariáveis II - Preposição

Função das preposições

Chamam-se preposições as palavras invariáveis que relacionam dois termos de uma oração, de tal modo que o sentido do primeiro (antecedente ou termo regente) é explicado ou completado pelo segundo (consequente ou termo regido).
Assim:
AntecedentePreposiçãoConsequente
VouaSão Paulo
Chegaramatempo
Todos saíramdecasa
Choravadedor
EstivecomPedro
Concordocomvocê

Forma das preposições

Quanto à forma, as preposições podem ser:
a) simples, quando expressas por um só vocábulo;

b) compostas (ou locuções prepositivas), quando constituídas de dois ou mais vocábulos, sendo o último deles uma preposição simples (geralmente de, eventualmente a ou com). Não obstante é a única que não termina em preposição.

Preposições simples

As preposições simples são:
acomempor (per)
antecontraentresem
apósdeparasob
atédesdeperantesobre
trás
Tais preposições se denominam também essenciais, para se distinguirem de certas palavras que, pertencendo normalmente a outras classes, funcionam, às vezes, como preposições e, por isso, se dizem preposições acidentais. Assim: aforaconforme, comoconsoanteduranteexcetoforamediantenão obstante, quesalvosegundosenãotirantevisto, etc. As preposições acidentais são resultantes de uma derivação imprópria, também chamada de conversão.

Locuções prepositivas

Eis algumas locuções prepositivas:
abaixo deapesar dedevido ajunto a
acerca dea respeito dediante dejunto de
não obstante (única não terminada em preposição)
acima deaté aembaixo depara baixo de
a despeito deatrás deem face depara cima de
adiante deatravés deem frente apara com
a fim decerca deem frente deperto de
além dede acordo comem lugar depor baixo de
antes dedebaixo deem redor depor cima de
ao invés dede cima deem torno depor detrás de
ao lado dedefronte deem vez depor diante de
ao redor dedentro defora depor entre
a par dedepois degraças apor trás de

Significação das preposições

1. A relação que se estabelece entre palavras ligadas por intermédio de preposição pode implicar movimento ou não movimento; melhor dizendo: pode expressar um movimento ou uma situação daí resultante.
Nos exemplos antes mencionados, a ideia de movimento está presente em:
  • Vou a Roma.
  • Todos saíram de casa.

São marcadas pela ausência de movimento as relações que as preposições ade e com estabelecem nas seguintes frases:
  • Chegaram a tempo.
  • Chorava de dor.
  • Estive com Pedro.
  • Concordo com você.

2. Tanto o movimento como a situação (termo que adotaremos daqui por diante para indicar a falta de movimento na relação estabelecida) podem ser considerados com referência ao espaço, ao tempo e à noção.

preposição de, por exemplo, estabelece uma relação:
  • a) espacial em:
  • Todos saíram de casa.

  • b) temporal em:
  • Trabalha de 8 às 8 todos os dias.

  • c) nocional em:
  • Chorava de dor.
  • Livro de Pedro.
Nos três casos a preposição de relaciona palavras à base de uma ideia central: "movimento de afastamento de um limite", "procedência". Em outros casos, mais raros, predomina a noção daí derivada, de "situação longe de". Os matizes significativos que esta preposição pode adquirir em contextos diversos derivarão sempre desse conteúdo significativo fundamental e das suas possibilidades de aplicação aos campos espacial, temporal ou nocional, com a presença ou a ausência de movimento.
3. Na expressão de relações preposicionais com ideia de movimento considerado globalmente, importa levar em conta um ponto limite (A), em referência ao qual o movimento será de aproximação (B → A) ou de afastamento (A → C):

Vou a Roma.
Trabalharei até amanhã.
Foi para o Norte.
Venho de Roma.
Estou aqui desde ontem.
Saíram pela porta.
4. Recapitulando e sintetizando, podemos concluir que, embora as preposições apresentem grande variedade de usos, bastante diferenciados no discurso, é possível estabelecer para cada uma delas uma significação fundamental, marcada pela expressão de movimento ou de situação resultante (ausência de movimento) e aplicável aos campos espacial, temporal e nocional.

Esquematizando:
Esta subdivisão possibilita a análise do sistema funcional das preposições em português, sem que precisemos levar em conta os variados matizes significativos que podem adquirir em decorrência do contexto em que vêm inseridas.

Conteúdo significativo e função relacional

1. Comparando as frases:
Viajei com Pedro
Concordo com você,

observamos que, em ambas, a preposição com tem como antecedente uma forma verbal (viajei e concordo), ligada por ela a um consequente, que, no primeiro caso, é um termo acessório (com Pedro = adjunto adverbial) e, no segundo, um termo integrante (com você = objeto indireto) da oração.

2. A preposição com exprime, fundamentalmente, a ideia de "associação", "companhia". E esta ideia básica, sentimo-la muito mais intensa no primeiro exemplo,

Viajei com Pedro,

do que no segundo,

Concordo com você. 
Aqui o uso da partícula com após o verbo concordar, por ser construção já fixada no idioma, provoca um esvaecimento do conteúdo significativo de "associação", "companhia", em favor da função relacional pura.
3. Costuma-se nesses casos desprezar o sentido da preposição, e considerá-la um simples elo sintático, vazio de conteúdo nocional.


Cumpre, no entanto, salientar que as relações sintáticas que se fazem por intermédio de preposição obrigatória selecionam determinadas preposições exatamente por causa do seu significado básico.
Assim, o verbo concordar elege a preposição com em virtude das afinidades que existem entre o sentido do próprio verbo e a ideia de "associação" inerente a com.
objeto indireto, que em geral é introduzido pelas preposições a ou para, corresponde a um "movimento em direção a", coincidente com a base significativa daquelas preposições.
4. Completamente distinto é o caso do objeto direto preposicionado, em que o emprego de preposição não obrigatória transmite à relação um vigor novo, pois o reforço que advém do conteúdo significativo da preposição é sempre um elemento intensificador e clarificador da relação verbo-objeto:


Conhecer da natureza quanto seja mister, para adorar com discernimento a Deus. (R. Barbosa) 
— Duas blasfêmias, menina; a primeira é que não se deve amar a ninguém como a Deus. (M. de Assis) 

5. Em resumo: a maior ou menor intensidade significativa da preposiçãodepende do tipo de relação sintática por ela estabelecida. Essa relação, como esclareceremos a seguir, pode ser fixanecessária ou livre.

Relações fixas

Examinando as relações sintáticas estabelecidas, nas frases abaixo, pelas preposições marcadas em itálico:
O rapaz entrou no café da Rua Luís de Camões. (C. D. de Andrade) 
Porém poesia não sai mais de mim senão de longe em longe. (M. de Andrade) 
— Então, sigo em frente até dar com eles. (A. Ribeiro) 

verificamos que o uso associou de tal forma as preposições a determinadas palavras (ou grupo de palavras), que esses elementos não mais se desvinculam: passam a constituir um todo significativo, uma verdadeira palavra composta. 

Nesses casos, a primitiva função relacional e o sentido mesmo da preposiçãose esvaziam profundamente, vindo a preponderar tanto na organização da frase como no valor significativo do conjunto léxico resultante da fixação da relação sintática preposicional.
Em dar com (= "topar"), por exemplo, a preposição, fixada à forma verbal, não lhe acrescenta apenas novos matizes conotativos, mas altera-lhe a própria denotação.

Relações necessárias

Nas orações:
— Foi vontade de Deus. (G. Ramos) 
Um magro procurava saber se a minha roupa preta tinha sido feita por alfaiate. (J. L. do Rego) 

as preposições relacionam ao termo principal um consequente sintaticamente necessário: 

vontade de Deus (substantivo + complemento nominal) 
feita por alfaiate (particípio + agente da passiva) 

Em tais casos, intensifica-se a função relacional das preposições com prejuízo do seu conteúdo significativo, reduzido, então, aos traços característicos mínimos.
Daí o relevo, no plano expressivo, da relação sintática em si.

Relações livres

A comparação dos enunciados:
Encontrar com um amigo
Encontrar um amigo
Procurar por alguém
Procurar alguém

mostra-nos que a presença da preposição (possível, mas não necessária sintaticamente) acrescenta, às relações que estabelece, as ideias de "associação" (com) e de "movimento que tende a completar-se numa direção determinada" (por). 

O emprego da preposição em relações livres é, normalmente, recurso de alto valor estilístico, por assumir ela na construção sintática a plenitude de seu conteúdo significativo.

Crase

Crase é um processo fonético, resultado da fusão da preposição a com
  • a) o artigo definido a(s):
  • Samuel foi convidado para ir à polícia. (C. C. de Andrade)

  • b) o pronome demonstrativo a(s):
  • A língua dos sermões parece levar vantagem à de todos os prosadores quinhentistas. (M. bandeira)

  • c) o fonema inicial dos pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo, aqueloutro(s), aqueloutra(s):
  • Não resistia àquele pavor. (J. L. do Rego)
crase é representada na escrita por um acento grave sobre a vogal a.
São condições básicas para o uso do acento grave indicativo de crase:
  • a) a existência de palavra feminina;

  • b) a palavra regente exigir a preposição a;

  • c) a palavra regida admitir o artigo a. Assim:
  • Da janela da cozinha, as mulheres assistiam à cena. (R. de Queirós)

  • No exemplo anterior, a palavra regente (v. assistir = presenciar) exige a preposição a; a palavra regida (cena) é feminina e se emprega com o artigo definido a. Logo: assistiam a + a cena = assistiam à cena.

    Principais casos de crase

    Casos gerais


    crase ocorre:
    • a) na indicação de horas ou parte do dia:
    • À tarde, deu um pulo no foro e às quatro horas voltou para apanhar a mala de mão. (F. Sabino)

    • b) com expressões claras ou subentendidas que indicam
    • — moda ou maneira:
    • Embaixo apareciam as calças listradas de negro e cinza, largamente dobradas na bainha e vincadas à Eduardo VII. (P. Nava)

    • — escola, universidade, empresa:
    • A rua torta que levava à Faculdade de Medicina ia dar no Sena. (J. Montello)

    • — rua, avenida:
    • Em minutos se viu transportado à Rua da Relação, fotografado, fichado, interrogado. (C. D. de Andrade)

    • c) antes de locuções adverbiais (à parte, à beça, à espera, à queima-roupa, à margem, à risca, à revelia, às escondidas...), exceto nos adjuntos adverbiais de meio ou instrumento, a menos que cause ambiguidade; prepositivas (à força de, à custa de, à vista de, à espera de...); e conjuntivas (à medida que, à proporção que...), formadas de substantivo feminino:
    • Aldo permaneceu calado, à espera. (F. Sabino)
    • No Tabuleiro da Baiana dormiam jornaleiros à espera dos matutinos. (C. D. de Andrade)
    • À proporção que o rapazola crescia, Paquita redobrava de dedicação para com ele. (J. Montello)
    Observação:
    Nessas locuções, o a recebe o acento grave, sem que haja, a rigor, crase.

    Casos particulares


    Dá-se a crase:
    • a) com a palavra casa quando indicar estabelecimento comercial ou estiver seguida de adjunto:
    • Foi um golpe esta carta; não obstante, apenas fechou a noite, corri à casa de Virgília. (M. de Assis)

    • Observação:
      Entretanto não há crase com a palavra casa no sentido de residêncialar. Chegamos a casa eu e ela perto das nove horas da noite. (M. de Assis)

    • b) com a palavra terra seguida de uma especificação qualquer:
    • Tanto eu quanto minha mulher já estávamos ajustados à terra e à gente de Portugal. (J. Montello)

    • Observação:

      Mas não se usa a crase antes da palavra terra em oposição a mar:
      À noite já está embarcado, e nem desce a terra para esperar a maré. (O. Costa Filho)

    • c) com a palavra distância quando significar na distância ou estiver determinada:
    • Não ameis à distância. (R. Braga)
    • O navio estava à distância de cem metros do cais.

    • d) com a locução prepositiva até a seguida de palavra feminina:
    • Até à hora do saimento ele se deixou ficar ali. (J. Montello)

    • e) com os pronomes relativos: a qualas quais, se o antecedente for feminino:
    • Ele era diferente desta pobre e imunda humanidade à qual todo indivíduo dotado de um mínimo de sensibilidade tem vergonha de pertencer. (P. Nava)

    • f) com o pronome relativo que antecedido do pronome demonstrativo a ou as (= aquela, aquelas):
    • Em uma nota, muito anterior à que saiu no jornal, meu pai pronunciou-se a respeito.

    Emprego facultativo

      crase é facultativa:
    • a) antes de nomes próprios femininos:
    • Chegou à cozinha, expôs à cozinheira e a Maria Júlia as penas verdes e amarelas que enfeitavam uma vida trêmula. (G. Ramos)

    • Observação:
      O autor poderia ter usado a crase se optasse pelo emprego do artigo a anteposto ao substantivo Maria Júlia.
    • b) antes de pronomes possessivos femininos no singular, desde que sejam pronome adjetivo:
    • Nosso filho saiu mais à tua família do que à minha. (J. Montello)
    • Em caso de pronomes possessivos no plural, não se trata de uma escolha entre as/às, mas sim de uma simples preposição (a) ou sua combinação com o artigo no plural (às):
    • Fiz menção a/às suas empresas.
    • Se o mesmo for usado como pronome substantivo, a crase será obrigatória.
    • Essa informação é semelhante à sua.

      • c) depois da preposição até, indicando limite:
      • Vamos até a igreja.
Se o até for usado como palavra denotativa de inclusão, não há crase.
Conheço até os filmes antigos.

    Casos em que não há crase

    Não ocorre a crase:
    • a) antes de nomes masculinos, a menos que esteja subentendida a palavra moda ou maneira:
    • Voltamos com a maré, a remo. (G. Amado)
    • Elaborou a redação à (moda de) Graciliano Ramos.

    • b) antes de nomes femininos, no plural, empregados sem artigo:
    • Nunca foi chegada a crianças. (F. sabino)

    • c) antes de verbos no infinitivo:
    • Põem-se a criticar-me, a fazer picuinhas. (A. M. Machado)

    • d) antes de artigo indefinido:
    • Tive de ir a uma entrevista coletiva em substituição a um colega. (F. Sabino)

    • e) antes de pronomes pessoais e de tratamento (exceção feita a senhora, senhorita, dona e madame):
    • Não basta a gente confessar-se a si mesma. (E. Veríssimo)
    • Tenho a honra de comunicar a Vossa Excelência que suas ordens foram fielmente cumpridas. (J. Montello)

    • f) antes de pronomes indefinidos e dos demonstrativos esta e essa, além dos pronomes interrogativos:
    • Um cabo de polícia esteve lá, mas não chegou a nenhuma conclusão. (R. Braga)
    • Se há alguma verdade nisso, então a esta hora ela está morta!(F. Sabino)
    • A quem você deve dinheiro?

    • g) nas locuções adverbiais constituídas de palavras repetidas: gota a gota, frente a frente, ponta a ponta, face a face, cara a cara, etc.:
    • Olha a vida, rindo ou chorando, frente a frente. (R. de Carvalho)
    • Numa conversa, cara a cara, quem sabe eu o convenço e boto abaixo essa injustiça. (J. Amado)

    • h) antes de adjuntos adverbiais de instrumento, a menos que provoque ambiguidade:
    • Fechou um cabaré a faca e quase mata um parceiro, homem de sua idade. (O. Costa Filho)  
    • Modernamente, alguns gramáticos renomados admitem tal acento em qualquer circunstância, mesmo não ocorrendo ambiguidade.

    • i) antes de nomes de cidades que se empregam sem artigo: 
    • Daqui de Londres vou a Paris. (J. Montello)

    • Observação:
      Porém, se o nome da cidade for empregado com adjetivo ou locução adjetiva, o acento é obrigatório:
    • Oh, minha infância! misturada, graças a eles, à Roma dos Tarquínios e à Bíblia dos patriarcas. (G. Amado)

    • j) antes dos relativos quem e cujo:
    • É o meu Salvador de outrora e de sempre, é aquele generoso espírito a quemnunca faltou simpatia para todo esforço sincero. (M. de Assis) 
      A baronesa sorriu e voltou os olhos para Guiomar, a cuja conta lançou aquela dedicação ao sobrinho. (M. de Assis)


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