Pronomes Substantivos e Pronomes Adjetivos
- 1. Os pronomes desempenham na oração as funções equivalentes às exercidas pelos elementos nominais. Eles substituem, retomam ou acompanham um substantivo.
Servem para:
- a) representar ou retomar um substantivo:
- Havia muitos poemas que mexiam, que se agitavam no seu espírito. Não encontrava, porém, forma de trazê-los à superfície. (A. F. Schmidt)
- b) acompanhar um substantivo, determinando-lhe a extensão do significado:
- Vi terras da minha terra.
- Por outras terras andei.
- Mas o que ficou marcado,
- No meu olhar fatigado
- Foram terras que inventei. (M. Bandeira)
No primeiro caso, desempenham a função de um substantivo e, por isso, recebem o nome de pronomes substantivos; no segundo chamam-se pronomes adjetivos, porque modificam o substantivo, que acompanham, como se fossem adjetivos. Os pronomes pessoais são sempre pronomes substantivos, pois sempre substituem o substantivo. Os demais podem ser pronomes substantivos ou adjetivos.
Há nove espécies de pronomes: pessoais, de tratamento, possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos, relativos, reflexivos e recíprocos.
Pronomes Pessoais
Os pronomes pessoais caracterizam-se:
- 1º) por denotarem as três pessoas gramaticais:
- a) quem fala - falante = 1ª pessoa: eu (singular), nós (plural);
- b) com quem se fala - interlocutor = 2ª pessoa: tu (singular), vós (plural);
- c) de quem ou de que se fala - referente = 3ª pessoa: ele, ela (singular); eles, elas (plural).
- 2º) por poderem representar, quando na 3ª pessoa, uma forma nominal anteriormente expressa:
- Santas virtudes primitivas, ponde
- Bênçãos nesta Alma para que ela se una
- A Deus, e vá, sabendo bem por onde... (A. de Guimaraens)
- 3º) por variarem de forma, segundo:
- a) a função que desempenham na oração;
- b) a acentuação que nela recebem.
Formas dos pronomes pessoais
Quanto à função, as formas do pronome pessoal podem ser retas ou oblíquas. Retas, quando funcionam como sujeito, predicativo do sujeito, aposto ou vocativo da oração, esse último com tu e vós; oblíquas, quando nela se empregam como objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, agente da passiva, adjunto adnominal, adjunto adverbial ou sujeito de verbo no infinitivo, esse último com verbo causativo ou sensitivo.
Quanto à acentuação, distinguem-se, nos pronomes pessoais, as formas tônicas das átonas.
O quadro a seguir mostra claramente a correspondência entre essas formas:
Pronomes Pessoais | Pronomes Pessoais Oblíquos Não Reflexivos | |||
---|---|---|---|---|
Retos | átonos | tônicos | ||
SINGULAR
![]() | 1ª Pessoa 2ª Pessoa 3ª Pessoa | eu tu ele, ela | me te se, o, a, lhe | mim, comigo ti, contigo ele, ela |
PLURAL
![]() | 1ª Pessoa 2ª Pessoa 3ª Pessoa | nós vós eles, elas | nos vos se, os, as, lhes | nós, conosco vós, convosco eles, elas |
Formas o, lo e no do pronome oblíquo
Quando o pronome oblíquo da 3ª pessoa, que funciona como objeto direto, vem antes do verbo, apresenta-se com as formas o, a, os, as. Assim:
A mãe o chamava da porta da cozinha. (O. L. Resende)
Quando, porém, está colocado depois do verbo e se liga a este por hífen (pronome enclítico), a sua forma depende da terminação do verbo. Assim:
- 1º) Se a forma verbal terminar em vogal ou ditongo oral, empregam-se o, a, os, as e os pronomes não se alteram:
- 2º) Se a forma verbal terminar em -r, -s ou -z, suprimem-se estas consoantes, e o pronome assume as modalidades lo, la, los, las:
- Ei-lo finalmente diante da locomotiva (A. Machado)
- Que o Senhor vo-la dê suave e pronta. (J. Montello)
- 3º) Se a forma verbal terminar em ditongo nasal, o pronome assume as modalidades no, na, nos, nas:
louvo-o | louvei-os |
louvava-a | louvou-as |
faze(r)+o = fazê-lo |
faze(s)+o = faze-lo |
fe(z)+o = fê-lo |
Um rumor fê-lo voltar-se (C. D. de Andrade)
O mesmo se dá quando ele vem posposto ao designativo eis ou aos pronomes nos e vos:
dão-no | tem-nos |
põe-na | trouxeram-nas |
Observação:
No futuro do presente e no futuro do pretérito, o pronome oblíquo não pode ser enclítico, isto é, não pode vir depois do verbo. Dá-se a próclise ou, então, a mesóclise do pronome, ou seja, a sua colocação no interior do verbo. Justifica-se tal colocação por terem sido estes dois tempos formados pela justaposição do infinitivo do verbo principal e das formas reduzidas, respectivamente, do presente e do imperfeito do indicativo do verbo haver. O pronome empregava-se depois do infinitivo do verbo principal, situação que, em última análise, ainda hoje conserva. E, como todo infinitivo termina em -r, também nos dois tempos em causa desaparece esta consoante e o pronome toma as formas lo, la, los, las. A mesóclise é estritamente formal e literária, não ocorrendo na fala espontânea de nenhum falante do português do Brasil, a menos que seja intencional. Geralmente é substituída pela próclise ou por uma locução verbal formada pelo verbo auxiliar ir. Deve ser evitada em textos argumentativos, por conferir um tom cerimonioso ao discurso. Assim:
Futuro do Presente | |
---|---|
vender-(h)ei | vendê-lo-ei |
vender-(h)ás | vendê-lo-ás |
vender-(h)á | vendê-lo-á |
vender-(h)emos | vendê-lo-emos |
vender-(h)eis | vendê-lo-eis |
vender-(h)ão | vendê-lo-ão |
Futuro do Pretérito | |
---|---|
vender-(hav)ia | vendê-lo-ia |
vender-(hav)ias | vendê-lo-ias |
vender-(hav)ia | vendê-lo-ia |
vender-(hav)íamos | vendê-lo-íamos |
vender-(hav)íeis | vendê-lo-íeis |
vender-(hav)iam | vendê-lo-iam |
- 1. Quando o objeto direto ou indireto representa a mesma pessoa ou a mesma coisa que o sujeito do verbo, ele é expresso por um pronome reflexivo.
- Ela vestiu-se rapidamente.
- Ela fala sempre de si.
- O comprador trouxe o dinheiro consigo.
- Eles vestiam-se rapidamente.
- Os compradores trouxeram o dinheiro consigo.
- 2. As formas do reflexivo nas pessoas do plural (nos, vos e se) empregam-se também para exprimir a reciprocidade da ação, isto é, para indicar que a ação é mútua entre dois ou mais indivíduos. Neste caso, diz-se que o pronome é recíproco:
- De alegria, todos se davam as mãos, confraternizando. (C. D. de Andrade)
- 3. Como são idênticas as formas do pronome recíproco e do reflexivo, pode haver ambiguidade com um sujeito plural. Uma frase como:
- Joaquim e Antônio enganaram-se
- pode significar que os dois cometeram um engano, ou que um enganou o outro.
- a) para marcar expressamente a ação reflexiva, acrescenta-se-lhes, conforme a pessoa, a mim mesmo, a ti mesmo, a si mesmo, a nós mesmos, a vós mesmos, etc, removendo-se o pronome:
- Joaquim e Antônio enganaram a si mesmos.
- b) para marcar expressamente a ação recíproca, junta-se-lhes uma expressão pronominal, como um ao outro, uns aos outros, entre si, ou um advérbio, como reciprocamente, mutuamente:
- Joaquim e Antônio enganaram-se entre si.
- Joaquim e Antônio enganaram-se uns aos outros.
- Joaquim e Antônio enganaram-se reciprocamente.
Pronomes reflexivos e recíprocos
O reflexivo apresenta três formas próprias — se, si e consigo —, que se aplicam tanto à 3ª pessoa do singular como à do plural:
Nas demais pessoas, as suas formas identificam-se com as do pronome oblíquo: me, te, nos e vos:
Eu me feri. | Nós nos vestimos. |
Tu te lavas. | Vós nos levantais. |
Remove-se a ambiguidade com expressões reforçativas. Assim:
Emprego dos pronomes retos
Funções dos pronomes retos
- 1. Os pronomes retos empregam-se como:
- a) sujeito:
Ela riu alto, demais. (A. Dourado) - b) predicativo do sujeito: Vou calar-me e fingir que eu sou eu... (A. Renault)
- 2. Tu e vós podem ser vocativos:
- Ó tu, Senhor Jesus, o Misericordioso,
De quem o Amor sublime enaltece o Universo... (A. de Guimaraens)
Omissão do pronome sujeito
Os pronomes sujeitos eu, tu, ele (ela), nós, vós, eles (elas) são normalmente omitidos em português, porque as desinências verbais bastam, de regra, para indicar a pessoa a que se refere o predicado, bem como o número gramatical (singular ou plural) dessa pessoa:
ando | escreves | dormiu |
rimos | partistes | voltam |
Presença do pronome sujeito
Emprega-se o pronome sujeito:
- a) quando se deseja, enfaticamente, chamar a atenção para a pessoa do sujeito:
- Eu sinto em mim o borbulhar do gênio. (C. Alves)
- b) para opor duas pessoas diferentes:
- Sorri e disse:
— Ele se irá, creio, mas ficará ela. (M. de Assis) - c) quando a forma verbal é comum à 1ª e à 3ª pessoa do singular e, por isso, se torna necessário evitar o equívoco:
- Convém que eu saiba o que ele disse?
Convém que ele saiba o que eu disse?
Extensão de emprego dos pronomes retos
Na linguagem formal, certos pronomes retos adquirem valores especiais. Enumeremos os seguintes:
- 1. O plural de modéstia. Para evitar o tom impositivo ou muito pessoal de suas opiniões, costumam os escritores e os oradores tratar-se por nós em lugar da forma normal eu. Com isso, procuram dar a impressão de que as ideias que expõem são compartilhadas por seus leitores ou ouvintes, pois que se expressam como porta-vozes do pensamento coletivo. A este emprego da 1ª pessoa do plural pela correspondente do singular chamamos plural de modéstia:
- Algumas [cantigas], mas poucas, foram por nós colhidas da boca do Povo. (J. Cortesão)
Advirta-se que, quando o sujeito nós é um plural de modéstia, o predicativo ou particípio, que com ele deve concordar, costuma ficar no singular, como se o sujeito fosse efetivamente eu. Assim, em vez de:
- Fiquei perplexo com o que ele disse.
- podemos dizer:
- Ficamos perplexo com o que ele disse.
Observação:
O pronome nós era usado outrora pelos reis de Portugal – e ainda hoje por altos dignitários da Igreja – como símbolo de grandeza e poder de suas funções. É o chamado plural de majestade:
Nós, Dom Fernando, pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve, fazemos saber...
2. Fórmula de cortesia (3ª pessoa pela 1ª). Quando fazemos um requerimento, por deferência à pessoa a quem nos dirigimos, tratamo-nos a nós próprios pela 3ªpessoa, e não pela 1ª: - Fulano de tal, aluno desse Colégio, requer a V.S.ª se digne de mandar passar por certidão as notas mensais por ele obtidas no presente ano letivo.
- 3. O vós de cerimônia. O pronome vós praticamente desapareceu da linguagem corrente do Brasil. Mas em discursos enfáticos alguns oradores ainda se servem da 2ª pessoa do plural para se dirigirem cerimoniosamente a um auditório qualificado.
- Em vós, na vossa mocidade, no vosso entusiasmo,
beijo a terra de Minas, coração do Brasil. (O. Bilac)
Veja-se este passo com que Olavo Bilac termina o seu discurso de ingresso na Academia das Ciências de Lisboa:
Realce do pronome sujeito
Para dar ênfase ao pronome sujeito, costuma-se reforçá-lo:
- a) seja com as palavras mesmo e próprio:
- — Tu mesmo serás o novo Hércules. (M. de Assis)
- b) seja com a expressão invariável é que:
- — Eu é que lhe devia pedir desculpas de minha irritação. (R. M. F. de Andrade)
Precedência dos pronomes sujeitos
Quando no sujeito composto há um pronome da 1ª pessoa do singular (eu), é boa norma de civilidade colocá-lo em último lugar:
Carlos, Augusto e eu fomos promovidos.
Se, porém, o que se declara contém algo de desagradável ou implica responsabilidade, por ele devemos iniciar a série:
Eu, Carlos e Augusto fomos os culpados do acidente.
Equívocos e incorreções
- 1. Como o pronome ele (ela) pode representar qualquer substantivo anteriormente mencionado, convém ficar bem claro a que elemento da frase ele se refere.
- Álvaro disse a Paulo que ele chegaria primeiro.
é ambígua, pois ele pode aplicar-se tanto a Álvaro como a Paulo. - 2. Na linguagem coloquial e familiar do Brasil, é muito frequente o uso do pronome ele(s), ela(s) como objeto direto em frases do tipo: Vi ele.
- 3. Convém, no entanto, não confundir tal construção com outras, perfeitamente legítimas, em que o pronome em causa funciona como objeto direto. Assim:
- b) quando precedido das palavras todo ou só:
- Só elas é que devíamos frequentar. (O. Andrade)
Amo em ti todas elas. (M. Rebelo)
Por exemplo, uma frase como:
Para evitar a ambiguidade, pode-se repetir o nome da pessoa a quem o pronome ele se refere, em forma de aposto:
Álvaro disse a Paulo que ele, Álvaro, chegaria primeiro.
Álvaro disse a Paulo que ele, Álvaro, chegaria primeiro.
Encontrei ela.
- a) quando, antecedido da preposição a, repete o objeto direto enunciado pela forma normal átona (o, a, os, as): Temia-a, a ela, à mulher que o guiava. (G. Rosa)
Contração das preposições de e em com o pronome reto da 3ª pessoa
As preposições de e em contraem-se com o pronome reto de 3ª pessoa ele(s), ela(s), dando, respectivamente, dele(s), dela(s) e nele(s), nela(s):
A pasta é dele, e nela está o meu caderno.
É de norma, porém, não haver a contração quando o pronome é sujeito; ou, melhor dizendo, quando as preposições de e em se relacionam com o infinitivo, e não com o pronome. Assim:
Ele me escrevia contente de eu ter topado com entusiasmo a ideia. (R. Braga)
Pronomes de Tratamento
- 1. Denominam-se pronomes de tratamento certas palavras e locuções que valem por verdadeiros pronomes pessoais, como: você, o senhor, Vossa Excelência. Alguns gramáticos consideram pronomes de tratamento apenas os iniciados pelo possessivo feminino vossa seguido de alguma palavra feminina, e senhor, senhora, senhorita, dom, dona, madame, dama, doutor, doutora, professor e professora são substantivos, títulos ou formas de tratamento.
- — Estela, você sabe que está com um vestido muito bonito? (C. D. de Andrade)
- Já fazia muito tempo que Vossa Excelência não vinha a Paris. (J. Montello)
- 2. Convém conhecer as seguintes formas de tratamento reverente e as abreviaturas com que são indicadas na escrita.
Embora designem a pessoa a quem se fala (isto é, a 2ª), esses pronomes levam o verbo para a 3ª pessoa:
Abrev. | Tratamento | Usado para dirigir-se a |
---|---|---|
V.A. | Vossa Alteza | Príncipes, princesas, duques e duquesas |
V.Em.ª | Vossa Eminência | Cardeais |
V.Ex.ª | Vossa Excelência | Altas autoridades do Governo e oficiais-generais das Forças Armadas |
V.Mag.ª | Vossa Magnificência | Reitores de universidades e de outras instituições de ensino superior |
V.M. | Vossa Majestade | Reis, rainhas, imperadores e imperatrizes |
V.Ex.ª Rev.ma | Vossa Excelência Reverendíssima | Bispos e arcebispos |
V.P. | Vossa Paternidade | Abades, superiores dos conventos |
V.Rev.ª ou V.Revm.ª | Vossa Reverência ou Vossa Reverendíssima | Sacerdotes e religiosos em geral |
V.S. | Vossa Santidade | Papa e Dalai Lama |
V.S.ª | Vossa Senhoria | Funcionários públicos graduados, oficiais até coronel, pessoas de cerimônia. Normalmente se usa em textos escritos, como cartas comerciais, ofícios, requerimentos etc. |
Observação:
Como dissemos, estas formas aplicam-se à 2ª pessoa, àquela com quem falamos; para a 3ª pessoa, aquela de quem falamos, usam-se as formas Sua Alteza, Sua Eminência, etc.
Emprego dos pronomes de tratamento da 2ª pessoa
- 1. Tu, você, o senhor
- 1º) O uso da forma pronominal tu restringe-se ao extremo Sul do país e a alguns pontos da região Norte, ainda não suficientemente delimitados. Em quase todo o território brasileiro, foi ela substituída por você. Pode-se dizer que para a imensa maioria dos brasileiros só há dois tratamentos de 2ª pessoa realmente vivos: você, como forma de intimidade; o senhor, a senhora, como forma de respeito ou cortesia. Neste caso, se se trata de moça solteira, usa-se a forma senhorita.
- 2º) O emprego das formas você e o senhor (e a senhora) estende-se, dia a dia, não só às funções de sujeito, de agente da passiva e de adjunto adverbial, mas também às de objeto (direto ou indireto) e de complemento nominal, substituindo com frequência as correspondentes átonas: o, a e lhe.
- Não vi você ontem. [= Não o vi ontem.]
- Queria servir o senhor muito bem. [= Queria servi-lo muito bem.]
- Comprei uma bolsa para a senhora. [= Comprei-lhe uma bolsa.]
- 2. Tratamento cerimonioso:
- 1º) Vossa Excelência (V.Ex.a) só se emprega para o Presidente da República, ministros, governadores dos Estados e do Distrito Federal, senadores, deputados federais, estaduais e distritais, secretários, embaixadores, juízes, desembargadores e as mais altas patentes militares. E assim mesmo quase que exclusivamente na língua escrita e protocolar. Em requerimentos, petições, etc. o seu uso costuma estender-se a presidentes de instituições, diretores de serviços e altas autoridades em geral.
- 2º) Vossa Senhoria (V.S.a) é tratamento muito raro na língua falada. Na língua escrita, emprega-se ainda em cartas comerciais, em requerimentos, em ofícios, etc., quando não é próprio o tratamento de Vossa Excelência.
- 3º) As outras formas — Vossa Eminência, Vossa Magnificência, Vossa Santidade, etc. — são protocolares e se aplicam especificamente aos ocupantes dos cargos atrás indicados. Por vezes, no tratamento direto, é possível substituí-las por formas também respeitosas, mas menos solenes. A um sacerdote, por exemplo, é comum tratar-se, em lugar de Vossa Reverência ou Vossa Reverendíssima, por o senhor.
- 3. Títulos profissionais e honoríficos:
- a) a patente dos militares:
- O General Osório
- O Brigadeiro Eduardo Gomes
- b) os altos cargos e títulos nobiliárquicos:
- O Presidente Bernardes
- A Condessa Pereira Carneiro
- c) o título Dom (escrito abreviadamente D.), para os membros da família imperial, para os nobres, para os monges beneditinos e para os dignitários da Igreja a partir dos bispos:
- D. Pedro
- D. Hélder
As formas de tratamento cerimonioso são mais frequentes em Portugal que no Brasil.
Sistematicamente, só se empregam títulos específicos seguidos dos nomes próprios:
Observe-se que, se Dom tem emprego restrito em português, o feminino Dona (também abreviado em D.) se aplica, em princípio, a senhoras de qualquer classe social.
De uso bastante generalizado é o título de Doutor. Recebem-no não só os médicos, advogados e dentistas e os que defenderam tese de doutorado, mas, indiscriminadamente, todos os diplomados por escolas superiores.
Idem ao título de Professor. Enquanto no Brasil seu uso se aplica aos docentes de qualquer grau de ensino, em Portugal seu uso se limita aos docentes de ensino primário e superior.
Formas de tratamento da 1ª pessoa
Na linguagem coloquial, emprega-se a gente por nós e, também, por eu:
A gente ia abaixando em silêncio, a gente ouvia, respeitava-os. (A. Dourado)
e o verbo deve ficar na 3ª pessoa do singular.
e o verbo deve ficar na 3ª pessoa do singular.
Emprego dos pronomes oblíquos
Formas tônicas
Sabemos que as formas oblíquas tônicas dos pronomes pessoais vêm acompanhadas de preposição. Como pronomes, são sempre termos da oração e, de acordo com a preposição que as acompanhe, podem desempenhar as funções de:
- a) complemento nominal:
- Tenho confiança em ti. (J. Montello)
- b) objeto indireto:
- A Academia reclama de mim sucessivas conferências. (J. Montello)
- c) objeto direto preposicionado (antecedido da preposição a e dependente, em geral, de verbos que exprimem sentimento):
- Rubião viu em duas rosas vulgares uma festa imperial, e esqueceu a sala, a mulher e a si. (M. de Assis)
- d) agente da passiva:
- O plano de assalto à casa foi traçado por mim. (R. Braga)
- e) adjunto adverbial:
- Instamos com ele para que ficasse uns dois dias conosco. (M. Bandeira)
Observação:
Cumpre evitar-se uma incorreção muito generalizada, que consiste em dar forma oblíqua ao sujeito do verbo no infinitivo. Diga-se:
Isto não é trabalho para eu fazer.
Para mim, só na língua dos índios, que, aliás, não é português: mim trabalha, mim caça, mim pesca.
Para os concursos, isso é invenção do povo, isto é, brasileirismo.
e não:
Isto não é trabalho para mim fazer.
Para mim, só na língua dos índios, que, aliás, não é português: mim trabalha, mim caça, mim pesca.
Para os concursos, isso é invenção do povo, isto é, brasileirismo.
e não:
Isto não é trabalho para mim fazer.
Tal construção viciosa não deve ser confundida com outra, em tudo legítima:
Para mim, fazer isto não é trabalho.
Para mim, não é trabalho fazer isto.
Para mim, não é trabalho fazer isto.
Pronomes precedidos de preposição
As formas oblíquas tônicas mim, ti, ele (ela), nós, vós, eles (elas) só se usam antecedidas de preposição. Assim:
Fez isto para mim.
Gosto de ti.
A ele cabe decidir.
Orai por nós.
Confiamos em vós.
Não há discordância entre elas.
Gosto de ti.
A ele cabe decidir.
Orai por nós.
Confiamos em vós.
Não há discordância entre elas.
Se o pronome oblíquo for precedido da preposição com, dir-se-á comigo, contigo, conosco e convosco. É regular, no entanto, a construção com ele (com ela, com eles, com elas):
Nunca se sabe quem está conosco ou contra nós. (E. Veríssimo)
Normal é também o emprego de com nós e com vós quando os pronomes vêm reforçados por outros, mesmos, próprios, todos, ambos ou qualquer numeral, aposto explicativo ou oração subordinada adjetiva:
Terá de resolver com nós mesmos.
Estava com vós outros.
Saiu com nós três.
Contava com todos vós.
Estava com vós outros.
Saiu com nós três.
Contava com todos vós.
Observações:
- 1º) Empregam-se as formas eu e tu depois das preposições acidentais: afora, fora, exceto, menos, salvo, tirante, esses pronomes não aceitam as preposições segundo, conforme, consoante, durante, mediante e não obstante:
- 2º) A tradição gramatical aconselha o emprego das formas oblíquas tônicas depois da preposição entre:
- No jantar, Lili ficou entre mim e ele, o padrinho, e, coisa incrível, deu-me mais atenção que a ele. (A. Peixoto)
- 3º) Com a preposição até usam-se as formas oblíquas mim, ti, etc.:
- Um grito do velho Zé Paulino chegou até mim. (J. L. do Rego)
Fora minha mãe e eu, quase todo mundo representava em Itaporanga. (G. Amado)
Talvez soubessem todos, menos eu, simplesmente por estar de pouco na terceira classe. (R. Pompeia)
Se, porém, até denota inclusão, e equivale a mesmo, também, inclusive, constrói-se com a forma reta do pronome:
Até eu, sempre discreto, como é de minha natureza, vim para fora. (J. Montello)
Formas átonas
- 1. São formas próprias do objeto direto: o, a, os, as:
- A vaidade picou-o de leve. (C. D. de Andrade)
- 2. São formas próprias do objeto indireto: lhe, lhes:
- Olga traz-lhe um café especial. (C. D. de Andrade)
- 3. Podem empregar-se como objeto direto ou indireto: me, te, se, nos e vos:
- Amou-nos com os nossos defeitos, deu-nos conselhos preciosos. (M. Bandeira)
O pronome oblíquo átono sujeito de um infinitivo
Se compararmos as duas frases:
Mandei que ele saísse.
Mandei-o sair.
verificamos que o objeto direto, exigido pela forma verbal mandei, é expresso:
Mandei-o sair.
verificamos que o objeto direto, exigido pela forma verbal mandei, é expresso:
- a) na primeira, pela oração que ele saísse;
- b) na segunda, pelo pronome seguido do infinitivo: o sair. E verificamos, também, que o pronome o está para o infinitivo sair como o pronome ele para a forma finita saísse, da qual é sujeito. Logo, na frase acima o pronome o desempenha a função de sujeito do verbo sair.
Construções semelhantes admitem os pronomes me, te, nos, vos (e o reflexivo ou recíproco se, que estudaremos à parte). Exemplos:
Deixe-me falar.
Fez-nos sentar.
Mandam-te entrar.
Fez-nos sentar.
Mandam-te entrar.
Pronome átono com valor possessivo
Os pronomes átonos que funcionam como objeto indireto (me, te, lhe, nos, vos, lhes) podem ser usados com sentido possessivo, principalmente quando se aplicam a partes do corpo, peças de vestuário, faculdades do espírito, graus de parentesco ou a objetos de uso pessoal:
A revolta amargava-lhe a boca, ressecava-lhe os lábios, contraía-lhe os maxilares. (J. Montello)
Valores e empregos do pronome se
O pronome se emprega-se como:
- a) objeto direto:
- Martinho se trancou por dentro... (Adonias Fillho)
- b) objeto indireto:
- Sofia dera-se pressa em tomar-lhe o braço. (M. de Assis)
- As duas miseráveis não se falavam. (G. Aranha)
- c) sujeito de um infinitivo:
- Sofia deixou-se estar à janela. (M. de Assis)
- d) pronome apassivador:
- Já não se via o sol. (M. Palmério)
- e) símbolo de indeterminação do sujeito (junto à 3ª pessoa do singular de verbos intransitivos, transitivos indiretos, de ligação ou transitivos diretos com objeto direto preposicionado):
- Discutia-se, gritava-se e acenava-se. (A. Arinos)
- f) partícula expletiva ou de realce (para realçar, com verbos intransitivos, a espontaneidade de uma atitude ou de um movimento do sujeito):
- Depois o vento se foi também... (L. Jardim)
- g) parte integrante de certos verbos que geralmente exprimem sentimento, ou mudança de estado: admirar-se, arrepender-se, atrever-se, indignar-se, queixar-se; congelar-se, derreter-se, etc.
- D. Adélia queixava-se baixinho. (G. Ramos)
Também expressa reciprocidade de ação:
Observação:
Em frases do tipo:
Vendem-se casas.
Compram-se móveis.
consideram-se casas e móveis os sujeitos das formas verbais vendem e compram, na voz passiva pronominal (= casas são vendidas; móveis são comprados), razão por que, no padrão formal da língua, se evita deixar o verbo no singular.
Compram-se móveis.
consideram-se casas e móveis os sujeitos das formas verbais vendem e compram, na voz passiva pronominal (= casas são vendidas; móveis são comprados), razão por que, no padrão formal da língua, se evita deixar o verbo no singular.
Combinações e contrações dos pronomes átonos
Quando numa mesma oração ocorrem dois pronomes átonos, um objeto direto e outro indireto, podem combinar-se, observadas as seguintes regras:
- 1º) Me, te, nos, vos, lhe e lhes (formas de objeto indireto) juntam-se a o, a, os, as (de objeto direto), dando:
- 2º) O pronome se associa-se a me, te, nos, vos, lhe e lhes (e nunca a o, a, os, as). Na escrita, as duas formas conservam a sua autonomia, quando antepostas ao verbo, e ligam-se por hífen, quando lhe vêm pospostas:
- Ofereceu-se-lhe depois o faustoso pórtico de outra construção ciclópica. (C. Laet)
- A escadaria se me afigurava imensa. (P. Nava)
- 3º) As formas me, te, nos e vos, quando funcionam como objeto direto, ou quando são parte integrante dos chamados verbos pronominais, não admitem a posposição de outra forma pronominal átona. O objeto indireto assume em tais casos a forma tônica preposicionada. Assim, dir-se-á:
- Recomendaram-te a mim. Recomendaram-me a ti.
- e não:
- Recomendaram-te-me. Recomendaram-me-te.
mo=me+o | ma=me+a | mos=me+os | mas=me+as |
to=te+o | ta=te+a | tos=te+os | tas=te+as |
lho=lhe+o | lha=lhe+a | lhos=lhe+os | lhas=lhe+as |
no-lo=nos+[l]o | no-la=nos+[l]a | no-los=nos+[l]os | no-las=nos+[l]as |
vo-lo=vos+[l]o | vo-la=vos+[l]a | vo-los=vos+[l]os | vo-las=vos+[l]as |
lho=lhes+o | lha=lhes+a | lhos=lhes+os | lhas=lhes+as |
Observações:
- 1º) As combinações lho, lha (equivalentes a lhes + o, lhes + a) e lhos, lhas(equivalentes a lhes + os, lhes + as) encontram sua explicação no fato de, na língua antiga, a forma lhe (sem -s) ser empregada tanto para o singular como para o plural. Originariamente, eram, pois, contrações em tudo normais.
- 2º) No Brasil, quase não se usam as combinações mo, to, lho, no-lo, vo-lo, etc. Da língua corrente estão de todo banidas e, na linguagem literária, aparecem algumas vezes:
- Não lhe tiro a razão, Excelência. Não, não lha tiro. (J. Montello)
Colocação dos pronomes átonos
- 1. Em relação ao verbo, o pronome átono pode estar:
- a) enclítico, isto é, depois dele:
- Impressionou-me sua solidão. (L. Cardoso)
- b) proclítico, isto é, antes dele:
- Dela me veio a grande revelação. (P. Nava)
- c) mesoclítico, ou seja, no meio dele, colocação que só é possível com formas do futuro do presente ou do futuro do pretérito, restrita à linguagem extremamente formal, não configura erro gramatical, mas deve ser evitada em textos argumentativos, por conferir um tom cerimonioso ao discurso:
- Vender-se-ão calos artificiais, quase tão dolorosos como os verdadeiros. (M. de Assis)
- Ter-lhe-ia feito mal a comida do restaurante? (J. Montello)
- 2. Sendo o pronome átono objeto direto ou indireto do verbo, a sua posição, na linguagem padrão, é a ênclise:
- Andrade olhou-o devagar e virou-lhe as costas. (L. Barreto)
Há, porém, casos em que se evita essa colocação. Examinaremos apenas os mais correntes.
Regras gerais
1. Com um só verbo
- 1º) Quando o verbo está no futuro do presente ou no futuro do pretérito, dá-se tão-somente a próclise ou a mesóclise do pronome:
- 2º) É, ainda, preferida a próclise:
- a) nas orações que contêm uma palavra negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada, de modo algum, de jeito nenhum, em hipótese alguma etc.) quando entre ela e o verbo não há pausa:
- Nunca o vi tão sereno e obstinado. (C. dos Anjos)
- b) nas orações iniciadas com pronomes e advérbios interrogativos, bem como pronomes demonstrativos neutros, relativos e indefinidos:
- Quem vos convidou para sair? / Por que a maltrataram?
- Isso me revolta. / Tudo nos agrada. / Eis o que te incomoda.
- c) nas orações iniciadas por palavras exclamativas, bem como nas orações que expressam desejo (optativas):
- Como te admiro! / Deus o ilumine!
- d) nas orações subordinadas desenvolvidas, ainda quando a conjunção esteja oculta:
- Agora quero também que me ajude. (J. L. do Rego)
- — Que é que desejas te mande do Rio? (A. Peixoto)
- e) com o gerúndio regido da preposição em ou de palavra atrativa, com a palavra 'só' no sentido de 'apenas', 'somente', com as conjunções coordenativas alternativas e com as formas verbais proparoxítonas:
- Em se lhe dando corda, ressurgia nele o tagarela da cidade. (M. Lobato)
- Saiu rapidamente, não nos dizendo nenhuma razão.
- Só se lembram de estudar na véspera das provas.
- Ou se diverte, ou fica em casa.
- Nós lhe obedecíamos.
- 3º) Não se dá a ênclise nem a próclise com os particípios.
- 4º) Com os infinitivos soltos, mesmo quando modificados por negação, é lícita a próclise ou a ênclise, embora haja acentuada tendência para esta última colocação pronominal:
- E ah! que desejo de a tomar nos braços... (O. Bilac)
- Para não fitá-lo, deixei cair os olhos. (M. de Assis)
- 5º) Pode-se dizer que, além dos casos examinados, a língua portuguesa tende à próclise pronominal:
- a) quando o verbo vem antecedido de certos advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez, etc.) ou expressões adverbiais e não há pausa que os separe:
- Ao despertar, ainda as encontro lá, sempre se mexendo e discutindo. (A. M. Machado)
- b) quando o sujeito da oração, anteposto ao verbo, contém o numeral ambos ou algum dos pronomes indefinidos (todo, tudo, alguém, qualquer, outro, etc.), pronomes demonstrativos neutros (isto, isso, aquilo, etc.), pronomes relativos (que, quem, qual, onde, etc.):
- Ambos lhe queriam bem, bem diferente. (J. L. do Rego)
- Todos os barcos se perdem entre o passado e o futuro. (C. Meireles)
- Pronomes demonstrativos em função substantiva - próclise de rigor; Pronomes demonstrativos em função adjetiva - próclise ou ênclise, facultativa
- c) nas orações alternativas:
- Maria, ora se atribulava, ora se abonançava. (O. Ribas)
- d) quando a oração, disposta em ordem inversa, se inicia por objeto direto ou predicativo.
- A grande notícia te dou agora. (F. Namora)
- 6º) Observe-se por fim que, sempre que houver pausa entre um elemento capaz de provocar a próclise e o verbo, pode ocorrer a ênclise ou mesóclise:
- — Não; dá-me conselhos... bons conselhos, meu Luís. (M. de Assis)
- Aqui, esboçar-se-ia uma querela sobre a essência da solidão. (C. D. de Andrade)
Eu me calarei | Calar-me-ei |
Eu me calaria | Calar-me-ia |
Quando o particípio vem desacompanhado de auxiliar, usa-se sempre a forma oblíqua regida de preposição:
Dada a mim a explicação, saiu.
A ênclise é mesmo de rigor quando o pronome tem a forma o(principalmente no feminino a) e o infinitivo vem regido da preposição a:
Se soubesse, não continuaria a lê-lo. (R. Barbosa) Iaiá deixou-se estar diante dela, a fitá-la e a resolvê-la. (M. de Assis)
2. Com uma locução verbal
- 1. Nas locuções verbais em que o verbo principal está no infinitivo ou nogerúndio pode dar-se:
- 1º) sempre a ênclise ao infinitivo ou ao gerúndio:
- O roupeiro veio interromper-me. (R. Pompeia)
- 2º) a próclise ao verbo auxiliar, quando ocorrem as condições exigidas para a anteposição do pronome a um só verbo, isto é:
- a) quando a locução verbal vem precedida de palavra negativa, e entre elas não há pausa:
- Tempo que navegaremos
- Não se pode calcular (C. Meireles)
- b) nas orações iniciadas por pronomes ou advérbios interrogativos:
- Que é que me podia acontecer? (G. Ramos)
- c) nas orações iniciadas por palavras exclamativas, bem como nas orações que exprimem desejo (optativas):
- Como se vinha trabalhando mal!
- Deus nos há de proteger!
- d) nas orações subordinadas desenvolvidas, mesmo quando a conjunção está oculta:
- O sufrágio que me vai dar será para mim uma consagração. (E. da Cunha)
- Ao cabo de cinco dias, minha mãe amanheceu tão transtornada que ordenou me mandassem buscar ao seminário. (M. de Assis)
- 3ª) a ênclise ao verbo auxiliar, quando não se verificam essas condições que aconselham a próclise:
- Ia-me esquecendo dela. (G. Ramos)
- 2. Quando o verbo principal está no particípio, o pronome átono não pode vir depois dele. Virá, então, proclítico ou enclítico ao verbo auxiliar, de acordo com as normas expostas para os verbos na forma simples:
- Arrependa-se do que me disse, e tudo lhe será perdoado. (M. de Assis)
- Gostaria de tê-la percorrido com alguém a meu lado... (M. Bandeira)
Observação:
A colocação dos pronomes átonos na linguagem coloquial do Brasil tende à próclise. Podem-se considerar como características do português do Brasil:
- a) a possibilidade de se iniciarem frases com tais pronomes:
- — Me desculpe se falei demais. (E. Veríssimo)
- b) a preferência pela próclise nas orações absolutas, principais e coordenadas não iniciadas por palavra que exija ou aconselhe tal colocação, como um numeral, substantivo, pronome pessoal reto, possessivo ou de tratamento e conjunção coordenativa:
- A cozinha me pareceu diferente. (R. Braga)
- — Se Vossa Reverendíssima me permite, eu me sento na rede. (J. Montello)
- c) a próclise ao verbo principal nas locuções verbais:
- — Será que o pai não ia se dar ao respeito? (A. Dourado)
Pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos
Estreitamente relacionados com os pronomes pessoais estão os pronomes possessivos e os demonstrativos.
Os pronomes pessoais, vimos, denotam as pessoas gramaticais; os outros dois indicam algo determinado por elas:
- a) os possessivos, o que lhes cabe ou pertence;
- b) os demonstrativos, o que delas se aproxima ou se distancia no espaço e no tempo.
Podemos, assim, estabelecer estas correspondências prévias:
1ª pessoa | 2ª pessoa | 3ª pessoa | |
---|---|---|---|
Pronome Pessoal | eu, nós | tu, vós | ele, ela, eles, elas |
Pronome Possessivo | meu, nosso | teu, vosso | seu, dele, sua, dela |
Pronome Demonstrativo | este | esse | aquele |
Pronomes Possessivos
Os pronomes possessivos acrescentam à noção de pessoa gramatical uma ideia de posse. São, de regra, pronomes adjetivos, equivalentes a um adjunto adnominal antecedido da preposição de (de mim, de ti, de nós, de vós, de si), mas podem empregar-se como pronomes substantivos:
Meu livro é este. Este livro é o meu.
Sempre com suas histórias!
Fazer das suas.
Formas dos pronomes possessivos
Os pronomes possessivos apresentam três séries de formas, correspondentes à pessoa a que se referem. Em cada série, estas formas variam de acordo com o gênero e o número da coisa possuída e com o número de pessoas representadas no possuidor.
Um possuidor | Vários Possuidores | |||||
---|---|---|---|---|---|---|
um objeto | vários objetos | um objeto | vários objetos | |||
1ªpessoa | ![]() | Masculino Feminino | meu minha | meus minhas | nosso nossa | nossos nossas |
2ªpessoa | ![]() | Masculino Feminino | teu tua | teus tuas | vosso vossa | vossos vossas |
3ªpessoa | ![]() | Masculino Feminino | seu, dele sua, dela | seus, deles suas, delas | seu, dele sua, dela | seus, deles suas, delas |
Concordância do pronome possessivo
- 1. O pronome possessivo concorda em gênero e número com o substantivo que designa o objeto possuído; e em pessoa, com o possuidor do objeto em causa:
- Pensava em ti. Ante meus olhos ávidos
- tua imagem sorria. (A. de Oliveira)
- 2. Quando um só possessivo determina mais de um substantivo, concorda com o que lhe esteja mais próximo:
- Rubião estacara o passo; ela pôde vê-lo bem, com seus gestos e palavras, o peito alto, e uma barretada que deu em volta. (M. de Assis)
Posição do pronome adjetivo possessivo
O pronome adjetivo possessivo precede normalmente o substantivo que determina, como nos mostram os exemplos até aqui citados. Pode, no entanto, vir posposto ao substantivo:
- 1º) quando este vem desacompanhado do artigo definido:
- Soube por José Veríssimo que estranhou a ausência de cartas minhas. (E. da Cunha)
- 2º) quando o substantivo já está determinado (pelo artigo indefinido ou por numeral, por pronome demonstrativo ou por pronome indefinido):
- Recebi, no Rio, no dia da posse no Instituto um telegrama seu, de felicitações... (E. da Cunha)
- 3º) nas interrogações diretas:
- Onde estais, cuidados meus? (M. Bandeira)
- 4º) quando há ênfase:
- Perdão para os crimes meus!... (Castro Alves)
Emprego ambíguo do possessivo de 3ª pessoa
As formas seu, sua, seus, suas aplicam-se indiferentemente ao possuidor da 3ª pessoa do singular ou da 3ª pessoa do plural, seja este possuidor masculino ou feminino.
O fato de o possessivo concordar unicamente com o substantivo denotador do objeto possuído provoca, não raro, dúvida a respeito do possuidor.
Para evitar qualquer ambiguidade, o português nos oferece o recurso de precisar a pessoa do possuidor com a substituição de seu(s), sua(s) pelas formas dele(s), dela(s), de você, do senhor e outras expressões de tratamento. Por exemplo, a frase:
Em encontro com Rosa, José fez comentários sobre os seus exames. tem um enunciado equívoco: os comentários de José podem ter sido feitos sobre os exames de Rosa; ou sobre os exames dele, José; ou sobre os exames de ambos; ou, ainda, sobre os exames da pessoa com quem se fala. Assim sendo, o locutor deverá expressar-se, conforme a sua intenção:
Em encontro com Rosa, José fez comentários sobre os exames dela (ou dele ou deles)
(de você, do senhor, da senhora).
ao lado de mim = ao meu lado
em favor de nós = em nosso favor
por causa de você = por sua causa
Reforço dos possessivos
O valor possessivo destes pronomes nem sempre é suficientemente forte. Quando há necessidade de realçar a ideia de posse — quer visando à clareza, quer à ênfase —, costuma-se reforçá-los:
- a) com a palavra próprio ou mesmo:
- Era ela mesma; eram os seus mesmos braços. (M. de Assis)
- b) com as expressões dele(s), dela(s), no caso do possessivo da 3ª pessoa:
- Montaigne explica pelo seu modo dele a variedade deste livro. (M. de Assis)
Valores dos possessivos
O pronome possessivo não exprime sempre uma relação de posse ou pertinência, real ou figurada. Na língua moderna, tem ele assumido múltiplos valores, por vezes bem distanciados daquele sentido originário.
Mencione-se o seu emprego:
- a) como indefinido:
- A senhora há de ter tido seus apertos de dinheiro, disse Rubião. (M. de Assis)
- b) para indicar aproximação ou indeterminação numérica:
- Entrou uma mulherzinha de seus quarenta anos, decidida e de passo firme. (F. Sabino)
- c) para designar um hábito:
- Era lindo o bicho, com sua calma de passarinho manso. (R. Braga)
Valores semânticos
- 1. Variados são os matizes expressos pelos possessivos. Servem, por vezes, para acentuar um sentimento:
- a) de consideração, de deferência, de respeito, de polidez, de tratamento cerimonioso:
- — Não posso deixá-lo um instante, meu Fidalgo. (A. Arinos)
- b) de intimidade, de amizade, de afeto:
- — Dispõe de mim, meu velho, estou às suas ordens, bem sabes. (A. Azevedo)
- c) de simpatia, de interesse (com referência a personagem de uma narrativa, a autor de leitura frequente, a clubes ou associações de que seja sócio ou aficionado, etc.):
- — Não sei para onde vou mandar o meu herói... — disse com um falso sorriso. (E. Veríssimo)
- d) de ironia, de ofensa, de grosseria, de malícia, de sarcasmo:
- Na mesa do major jantei o meu frango, comi a minha boa posta de robalo, trabalho que afundou em mais de duas horas. (J. C. de Carvalho)
- Não aja por impulso, seu imbecil!
- Como você fez isso, seu idiota?
- 2. De acentuado caráter afetivo é também a construção em que uma forma feminina plural do pronome completa a expressão fazer (ou dizer) das = praticar uma ação ou dizer algo particular, geralmente passível de crítica:
- — Você andou por aí fazendo das suas. (L. Lins do Rego)
Observe-se que, no primeiro exemplo, o possessivo vem normalmente acompanhado do artigo definido. Nos últimos casos, o possessivo vem acompanhado de um adjetivo.
Nosso de modéstia e de majestade
Paralelamente ao emprego do pronome pessoal nós por eu nas fórmulas de modéstia e de majestade que estudamos, aparece o do possessivo nosso(a) por meu (minha).
Comparem-se estes exemplos:
- a) de modéstia:
- Este livro nada mais pretende ser do que um pequeno ensaio. Foi nosso escopoencontrar apoio na história do Brasil, na formação e crescimento da sociedade brasileira, para colocar a língua no seu verdadeiro lugar: expressão da sociedade, inseparável da história da civilização. (S. da Silva Neto)
- b) de majestade:
- Mandamos que os ciganos, assi homens como mulheres, nem outras pessoas, de qualquer nação que sejam, que com eles andarem, não entrem em nossos Reinos e Senhorios. (Ordenações Filipinas, livro V, título 69.)
Vosso de cerimônia
O uso do pronome pessoal vós como tratamento cerimonioso aplicado a um indivíduo ou a um auditório qualificado leva, naturalmente, a igual emprego do possessivo vosso(a). Exemplos:
Levareis, Senhores Delegados, aos vossos Governos, à vossa Pátria, estas declarações que são a expressão sincera dos sentimentos do Governo e do Povo Brasileiro. (Barão do Rio Branco) Substantivação dos possessivos
Os possessivos, quando substantivados, designam:
- a) no singular, o que pertence a uma pessoa:
- A rapariga não tinha um minuto de seu. (A. Rangel)
- b) no plural, os parentes de alguém, seus companheiros, compatriotas ou correligionários:
- Peço-lhe que não desampare os meus. (M. de Assis)
Emprego do possessivo pelo pronome oblíquo tônico
Em certas locuções prepositivas, o pronome oblíquo tônico, que deve seguir a preposição e com ela formar um complemento nominal do substantivo anterior, é normalmente substituído pelo pronome possessivo correspondente. Assim:
em frente de ti = em tua frente ao lado de mim = ao meu lado
em favor de nós = em nosso favor
por causa de você = por sua causa
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