quarta-feira, 27 de junho de 2018

Classes Variáveis VIII - Pronomes II

Pronomes Demonstrativos

  • 1. Os pronomes demonstrativos situam a pessoa ou a coisa designada relativamente às pessoas gramaticais. Podem situá-la no espaço ou no tempo:
  • Vivi; pois Deus me guardava
  • Para este lugar e hora! (G. Dias)

  • A capacidade de mostrar um objeto sem nomeá-lo, a chamada função dêitica, é a que caracteriza fundamentalmente esta classe de pronomes.

  • 2. Mas os demonstrativos empregam-se também para lembrar ao ouvinte ou ao leitor o que já foi mencionado ou o que se vai mencionar:
  • A ternura não embarga a discrição nem esta diminui aquela. (M. de Assis)
É a sua função anafórica.

Formas dos pronomes demonstrativos

  • 1. Os pronomes demonstrativos apresentam formas variáveis e formas neutras:
  • VariáveisNeutras
    masculinofeminino
    esteestesestaestasisto
    esseessesessaessasisso
    aqueleaquelesaquelaaquelasaquilo

  • 2. As formas variáveis (esteesseaquele, etc.) podem funcionar como pronomes adjetivos e como pronomes substantivos:
  • Este livro é meu.
  • Meu livro é este.

  • 3. As formas neutras (istoissoaquilo) são sempre pronomes substantivos.

  • 4. Estes demonstrativos combinam-se com as preposições de e em, tomando as formas: destedestadistonestenestanistodessedessadissonessenessanissodaqueledaqueladaquilo; naquelenaquelanaquilo.

  • Aqueleaquela e aquilo contraem-se ainda com a preposição a, dando: àqueleàquela e àquilo.

  • 5. Podem também ser demonstrativos o (aosas), mesmoprópriosemelhante tal, como veremos adiante.

Valores gerais

Considerando-os nas suas relações com as pessoas do discurso, podemos estabelecer as seguintes características gerais para os pronomes demonstrativos:
  • 1ºEsteesta e isto indicam:
    • a) o que está perto da pessoa que fala:
    • As mãos que trago, as mãos são estas. (C. Meireles)

    • b) o tempo presente em relação à pessoa que fala:
    • Ó tristeza sem fim deste dia de agosto! (G. de Almeida)

  • 2ºEsseessa e isso designam:
    • a) o que está perto da pessoa a quem se fala:
    • — Que susto você me pregou, entrando aqui com essa cara de alma do outro mundo! (C. dos Anjos)

    • b) o tempo passado ou futuro com relação à época em que se coloca a pessoa que fala:
    • Desses longes imaginados, dessas expectativas de sonho, passava ele ao exame da situação da Europa em geral e da Alemanha em particular. (G. Amado)
  • 3ºAqueleaquela e aquilo denotam:
    • a) o que está afastado tanto da pessoa que fala como da pessoa a quem se fala:
    • Por que latem aqueles cães lá longe? (R. Couto)

    • b) um afastamento no tempo de modo vago, ou uma época remota:
    • Por que acordaste naquela hora morta? (G. de Almeida)
    • Naquele tempo não existia o Dia do Papai. (C. D. de Andrade)

Outros empregos

  • 1Este (estaisto) é a forma de indicar algo que será citado no texto, sendo um elemento catafórico:
  • Dizendo isto, Jorge entrou a falar de suas esperanças e futuros. (M. de Assis)

  • 2. Esse (essaisso) é a forma de indicar algo que já foi citado no texto, sendo um elemento anafórico: 
  • Não se falava porém mais entre eles da matéria sentimental; esse capítulo estava cancelado. (J. de Alencar)

  • 3Esse (essaisso) é a forma que empregamos quando nos referimos ao que foi dito por nosso interlocutor:
  • — Vamos brincar de bandido?
  • — Aqui ninguém conhece esse brinquedo não, respondeu Sira. (G. Ramos)

  • 4. Tradicionalmente, usa-se nisto no sentido de entãonesse momento, como advérbio de tempo:
  • Nisto ouviu um ranger de botinhas no corredor. (J. Montello)

  • 5. Em certas expressões o uso fixou determinada forma do demonstrativo, nem sempre de acordo com o seu sentido básico. É o caso das locuções: além dissoisto éisto depor isso (raramente por isto), nem por isso:
  • Li, isto é, folheei, os três pesados volumes da Academia e não encontrei rasto da grande, da encomiada fênix dos engenhos. (J. Ribeiro)

Posição do pronome adjetivo demonstrativo

  • 1. O demonstrativo, quando pronome adjetivo, precede normalmente o substantivo que determina:
  • Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
  • Que me penetra bem, como este sol de inverno. (C. Pessanha)

  • 2. Pode, no entanto, vir posposto ao substantivo para melhor especificar o que se disse anteriormente:
  • Lia eu traduções de romances franceses, em edições populares vindas de Portugal, edições essas que nunca mais vi. (A. F. Schmidt)

  • 3. Usa-se para determinar o aposto, precedendo-o, geralmente quando este salienta uma característica marcante da pessoa ou do objeto:
  • Acudiu à memória de Rubião que o Freitas — aquele Freitas tão alegre — estava gravemente enfermo. (M. de Assis)

  • 4Esse (e eventualmente este) emprega-se também para pôr em relevo um substantivo que lhe venha anteposto:
  • O sacrificador, esse, ficara rondando por aí. (C. D. de Andrade)
  • Ricardo, este, fora ferido mais gravemente. (L. Barreto)

Referência a termos precedentes

  • 1. Quando queremos nos referir, discriminadamente, a termos já mencionados, servimo-nos do demonstrativo aquele para o referido em primeiro lugar, e do demonstrativo este para o que foi nomeado por último. Apesar de algumas bancas de concursos aceitarem o uso do demonstrativo esse para retomar o elemento intermediário, não há respaldo em nenhum gramático. Nesse caso, recomenda-se o uso de numerais: o primeiro, o segundo, o terceiro quando há mais de dois referentes a serem retomados:
  • "O certo é que um e outro são inseparáveis, ou antes, este determina aquele." (C. D. de Andrade)

  • 2. Observe-se também a ocorrência de dois demonstrativos em construções nas quais o predicativo do sujeito introduzido por aquele melhor esclarece o sujeito, expresso por um substantivo determinado por este ou esse.
  • Mas esses atos são justamente aqueles que os psiquiatras designam como características de qualquer perturbação mental. (T. Barreto)

Reforço dos demonstrativos

Quando, por motivo de clareza ou de ênfase, queremos precisar a situação das pessoas ou das coisas a que nos referimos, usamos acompanhar o demonstrativo de algum gesto indicador, ou reforçá-lo:
  • a) com os advérbios aquialiacolá:
  • — Espera aí. Este aqui já pagou. Agora vocês é que vão engolir tudo, se maltratarem este rapaz. (C. D. de Andrade)

  • b) com as palavras mesmo e próprio:
  • — Recusei. Não sei se fiz bem
  • — É por causa da mulher.
  • — Isso mesmo. (O. Lins)

Valores afetivos

  • 1. Os demonstrativos reúnem o sentido de atualização ao de determinação. São verdadeiros "gestos verbais", acompanhados em geral de entoação particular e, não raro, de gestos físicos.
  • A capacidade de fazerem aproximar ou distanciar no espaço e no tempo as pessoas e as coisas a que se referem permite a estes pronomes expressarem variados matizes afetivos, em especial os irônicos.
  • 2. Nos exemplos a seguir, servem para intensificar, de acordo com a entonação e o contexto, os sentimentos de:
    • a) surpresa, espanto:
    • — Essa agora! (J. de Sena)

    • b) admiração, apreço:
    • Nunca pensei que houvesse homens com aquela coragem. (J. Lins do Rego)

    • c) indignação:
    • Foi isto, meu senhor, foi esta praga daquele maldito. (M. de Assis)

    • d) pena, comiseração:
    • Aquela mulher, flor de poesia, era agora aquilo. (A. M. Machado)

    • e) ironia, malícia:
    • — Este Brás! Este Brás! Não lhes digo nada! (A. de A. Machado)

    • f) sarcasmo, desprezo:
    • — Depois transformaram a senhora nisso, D. Adélia. Um trapo, uma velha sem-vergonha. (G. Ramos)
  • 3. Digno de nota é o acentuado valor irônico, por vezes fortemente depreciativo, dos neutros istoisso e aquilo, quando aplicados a pessoas, como nestes passos:
  • Ninguém sabe onde ele anda, Seu Coronel! Aquilo é um desgraçado. (J. Lins do Rego)

  • Mas, pelos contrastes que não raro se observam nos empregos afetivos, podem esses demonstrativos expressar também alto apreço por determinada pessoa:
  • — Bonita mulher. Como aquilo vê-se pouco. Ele teve sorte. (C. Soromenho)

  • 4. As formas femininas esta e essa fixaram-se em construções elípticas do tipo:

  • Ora essa
    Essa é boa! 
    Essa, não! 
    Essa cá me fica! 
    Mais esta!... 
    Esta é fina! 

O, a, os, as como demonstrativo

O demonstrativo o (aosas) é sempre pronome substantivo e emprega-se nos seguintes casos:

  • a) quando vem determinado por uma oração ou, mais raramente, por uma expressão adjetiva, e tem o significado de aquele(s)aquela(s)aquilo:
  • Os passarinhos daqui
  • Não cantam como os de lá. (O. de Andrade)

  • b) quando, no singular masculino, equivale a istoissoaquilo, e exerce as funções de objeto direto ou de predicativo, referindo-se a um substantivo, a um adjetivo, ao sentido geral de uma frase ou de um termo dela:
  • Só ele o sabia ao certo. (A. Arinos)

  • São mulheres desgraçadas...
  • Como Agar o foi também. (C. Alves)

Substitutos dos pronomes demonstrativos

Podem também funcionar como demonstrativo as palavras talmesmopróprio e semelhante.
  • 1. Mesmo (e as variações mesma, mesmos, mesmas):
  • Eu mesmo lhe direi toda a verdade. - pronome demonstrativo de reforço
  • Referiu-se ao mesmo casal. - identidade
  • Luíza sabia mesmo o que dizia. - advérbio de afirmação: realmente, de fato
  • A nota da prova confirmou mesmo o resultado. - advérbio de modo: justamente, precisamente
  • Mesmo os familiares criticaram sua decisão. - palavra denotativa de inclusão: também, até, inclusive
  • Mesmo sendo ignorante, sempre fui educado. - conjunção subordinativa concessiva: embora, conquanto, apesar de, ainda que
  • Vou acertar na loteria. Mesmo?! - interjeição: surpresa, espanto, admiração

Construções incorretas:
Todos aguardavam ansiosos a chegada da mesma. - dela
Falei com o contador o mesmo afirmou que... - ele / o qual

Construção correta:
Pedro e Beatriz me ajudaram e esperam que eu faça o mesmo com Felipe, Flávia, Marcos e Paulo. - isso

2. Próprio (e as variações próprio, própria, próprios e próprias):
Ele não conhece a si próprio. - pronome demonstrativo de reforço
Esse filme não é próprio para crianças. - adjetivo, sinônimo de adequado, recomendado e apropriado e antônimo de inadequado, inapropriado e impróprio.

3. Semelhante (e a variação semelhantes):
Não me diga semelhante coisa! - pronome demonstrativo
Essa opinião é semelhante à minha. - adjetivo, sinônimo de parecida, idêntica

4. Tal (e a variação tais)
Realmente, aquela casa foi palco de crimes terríveis. Eu já ouvi tal história muitas vezes. - demonstrativo anafórico
Ele combinou com o assassino assaltarem a casa em tal dia, a tal hora... - demonstrativo de sentido indefinido

Pronomes Indefinidos

Chamam-se indefinidos os pronomes que se aplicam à 3ª pessoa gramatical, quando considerada de um modo vago e indeterminado. Segundo alguns dicionários, as palavras fulano, sicrano e beltrano são substantivos, e não pronomes indefinidos.

Formas dos pronomes indefinidos

Os pronomes indefinidos apresentam formas variáveis e invariáveis:
VariáveisInvariáveis
masculinofeminino
algumalgunsalgumaalgumasalguém
nenhumnenhunsnenhumanenhumasninguém
todotodostodatodastudo
outrooutrosoutraoutrasoutrem
muitomuitosmuitamuitasnada
poucopoucospoucapoucascada
certocertoscertacertasalgo
váriováriosváriavárias mais
tantotantostantatantas menos
quantoquantosquantaquantasdemais 
qualquer

bastante
quaisquer

bastantes
qualquer

bastante
quaisquer

bastantes
 fulano

sicrano

beltrano

Locuções pronominais indefinidas

Dá-se o nome de locuções pronominais indefinidas aos grupos de palavras que equivalem a pronomes indefinidoscada umcada qual, qualquer umquem quer quetodo aquele queseja quem forseja qual for, todo o mundo, etc.

Pronomes indefinidos substantivos e adjetivos

  • 1. Os indefinidos alguémninguémoutremalgonada e tudo só se usam como pronomes substantivos:
  • Alguém batia palmas insistentes na varanda. (O. L. Resende)
  • Que outrem melhor fará o louvor de lira emudecida? (M. Bandeira)

  • 2. Os demais são pronomes adjetivos que, em certos casos, podem funcionar como pronomes substantivos:
  • Muitos alunos prestaram exame, mas poucos foram aprovados.

  • 3Certo apenas se usa como pronome adjetivo:
  • Em certo ponto a água cobria um homem.

  • 4. Também os indefinidos cada e qualquer devem sempre vir acompanhados de substantivo, pronome ou numeral cardinal, sempre acompanham um substantivo, nunca o substituem, a não ser em comédias e na fala dos deputados:
  • Está cada qual como Deus o fez. (G. Ramos)
  • Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar. (C. D. de Andrade)

Valores de alguns indefinidos

Algum e nenhum
  • 1. Anteposto a um substantivo, algum tem valor positivo. É o contrário de nenhum. Varia tanto em gênero quanto em número:
  • A saudade do paraíso perdido ainda plange em alguns corações. (G. Amado)

  • 2. Posposto a um substantivo, algum assumiu, na língua moderna, significação negativa, mais forte do que a expressa por nenhum. Em geral, o indefinido adquire este valor em frases onde já existem formas negativas, como nãonemsem. Pode variar em gênero, mas não varia nunca em número:
  • Não escreveu, que eu saiba, livro algum. (A. F. Schmidt)

  • 3. Reforçado por negativa, nenhum pode equivaler ao indefinido um:
  • Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro
  • Fui honrado pastor da tua aldeia. (T. A. Gonzaga)
4. Na linguagem informal, algum pode significar dinheiro.
Você tem algum aí para me emprestar?

Cada
  • 1. Como dissemos, deve-se empregar o indefinido cada apenas como pronome adjetivo. Quando falta o substantivo, usa-se cada um (uma), cada qual. Sempre acompanha um substantivo, não o substitui:
  • Cada qual sabe de sua vida. (J. Amado)

  • 2Cada pode preceder um numeral cardinal para indicar discriminação entre unidades, ou entre grupo ou séries de unidades:
  • De cada dúzia de ovos que vendia, a metade era lucro.

  • 3. Tem acentuado valor intensivo em frases do tipo:
  • Você tem cada uma! (G. Ramos)
Certo
  • 1Certo é pronome indefinido quando anteposto a um substantivo. Caracteriza-o a capacidade de particularizar o ser expresso pelo substantivo, distinguindo-o dos outros da espécie, mas sem identificá-lo. Dispensa, em geral, o artigo indefinido. A presença deste torna a expressão menos vaga e dá-lhe um matiz afetivo:
  • No rostinho enrugado e emurchecido, havia ainda uma certa graça e vivacidadede menina. (E. Veríssimo)

  • 2. É adjetivo, com o significado de seguroverdadeirofielconstante:
    • a) quando posposto ao substantivo:
    • — Idade certa não sei. (G. França de Lima)

  • b) quando anteposto ao substantivo, mas precedido de palavra que exprima gradação:
  • Mais certo amigo é João de que Pedro, tão certo amigo é João como Paulo. (S. da Silveira)
Nada
  • 1Nada significa nenhuma coisa, mas equivale a alguma coisa em frases interrogativas negativas do tipo:
  • De tempos em tempos aparecia, perguntava se eu não queria nada. (M. de Andrade)

  • 2. Junto a um adjetivo ou a um verbo intransitivo pode ter força adverbial:
  • Aquele menino não é nada tolo.
  • O cavalo não correu nada.
Outro
  • 1. Cumpre distinguir as expressões:
    • a) outro dia, ou o outro dia = um dia passado mas próximo:
    • — Outro dia fui à casa do Sebastião e lá aceitei um café. (C. D. de Andrade)

    • b) no outro dia, ou ao outro dia = no dia seguinte:
    • No outro dia, de volta do campo, encontrei no alpendre João Nogueira, Padilha e Azevedo Gondim. (G. Ramos)
  • 2. Em expressões denotadoras de reciprocidade, como um ao outroum do outroum para o outro, conserva-se em geral a forma masculina, ainda que aplicada a indivíduos de sexos diferentes:
  • Compreendi que um vínculo de simpatia moral nos ligava um ao outro; com a diferença que o que era em mim paixão específica, era nela uma simples eleição de caráter. (M. de Assis)

  • 3Outro pode empregar-se como adjetivo na acepção de diferente, mudado, novo:
  • Teria hoje outra visão. (T. M. Moreira)
Qualquer
Tem por vezes sentido pejorativo, particularmente quando precedido de artigo indefinido:
— Júlio, se eu te falo assim é porque não te vejo como um qualquer. (J. L. do Rego) 

A tonalidade depreciativa torna-se mais forte se o indefinido vem posposto a um nome de pessoa:
Hoje é isto que o senhor vê: um Pestana qualquer acha-se com o direito de ser deputado. (J. L. do Rego)  

Não deve ser usado com sentido negativo, somente com sentido afirmativo, para generalizar ou indefinir um substantivo. Nas frases negativas, substitui-se por nenhum ou algum - depois do substantivo.

Não vejo qualquer problema. - registro informal / coloquial
Não vejo nenhum problema. - registro formal / culto (forma pleonástica, mas consagrada)
Não vejo problema algum. - forma possível e aceitável

Uso correto:
Qualquer brasileiro pode sacar suas cotas do FGTS e PIS/PASEP em qualquer casa lotérica, caixa eletrônico, correspondente Caixa Aqui ou agência da Caixa Econômica Federal.

Todo
  • 1. No singular e posposto ao substantivo, todo indica a totalidade das partes:
  • O conflito acordou o colégio todo. (G. Amado)

  • 2. No plural, anteposto ou não, designa a totalidade numérica:
  • Todos os barcos se perdem,
  • Entre o passado e o futuro. (C. Meireles)

  • 3. Anteposto a um elemento nominal, aposto ou predicativo, emprega-se com o sentido de inteiramenteem todas as suas partesmuito:
  • Eras toda graça e incompreensão. (R. Couto)
Tudo
Refere-se normalmente a coisas, mas pode aplicar-se também a pessoas:
Fidélia chegou, Tristão e a madrinha chegaram, tudo chegou. (M. de Assis)

Pronomes Interrogativos

  • 1. Na verdade, não existem pronomes exclusivamente interrogativos. Chamam-se interrogativos os pronomes indefinidos quequemqual e quanto, empregados para formular uma pergunta direta ou indireta:
  • Que trabalho estão fazendo?
  • Quem disse tal coisa?
  • Qual dos livros preferes?
  • Quantos passageiros desembarcaram?
  • Diga-me que trabalho estão fazendo.
  • Ignoramos quem disse tal coisa.
  • Não sei qual dos livros preferes.
  • Pergunte quantos passageiros desembarcaram. 

    • 2. Os pronomes interrogativos estão estreitamente ligados aos pronomes indefinidos. Em uns e outros a significação é indeterminada, embora no caso do interrogativo a resposta, em geral, venha esclarecer o que foi perguntado. Quando, como, onde e por que são advérbios interrogativos, e não pronomes.

    Flexão dos interrogativos

    Os interrogativos que e quem são invariáveis. Qual flexiona-se em número (qual — quais); quanto, em gênero e em número (quanto — quanta — quantos — quantas).

    Valor e emprego dos interrogativos

    Que
    • 1. O interrogativo que pode ser:
      • a) pronome substantivo, quando significa "que coisa":
      • Que teria havido naquela tarde? (O. Lins)

      • b) pronome adjetivo, quando significa "que espécie de", e neste caso refere-se a pessoas ou a coisas:
      • Que história é aquela? (G. Ramos)
    • 2. Para dar maior ênfase à pergunta, em lugar de que pronome substantivo, usa-se o que, ou, com reforço, que é queo que é que e que é o que:
    • O que quer dizer isto, praça? (J. L. do Rego)
    • — Que é que o senhor está fazendo? (C. Lispector)
    Quem
    • 1. O interrogativo quem é pronome substantivo e refere-se apenas a pessoas ou a algo personificado:
    • Quem não a canta? QuemQuem não a canta e sente? (J. de Lima)

    • 2. Em orações com o verbo ser, pode servir de predicativo a um sujeito no plural:
    • Sabem, acaso, os vultos, quem vão sendo? (C. Meireles)
    Qual
    • 1. O interrogativo qual tem valor seletivo e pode referir-se tanto a pessoas como a coisas. Usa-se geralmente como pronome adjetivo, mas nem sempre com o substantivo contíguo. Nas perguntas feitas com o verbo ser, costuma-se empregar o verbo depois de qual:
    • Qual foi o entendimento que não chegamos a ter?
    • [= Qual entendimento foi o que não chegamos a ter?] (A. de Campos)

    • 2. A ideia seletiva pode ser reforçada pelo emprego da expressão qual dos, (dasou de) anteposta ao substantivo ou a pronome no plural:
    • Qual de nós poderia gabar-se de conhecer espinafre? (C. D. de Andrade)
    Quanto
    interrogativo quanto é um quantitativo indefinido. Refere-se a pessoas e coisas e usa-se quer como pronome substantivo, quer como pronome adjetivo: 

    Quanto é que o senhor oferece? (R. Braga) 
    Quantos livros já publicou? (C. D. de Andrade)

Pronomes Relativos

São assim chamados porque se referem, em geral, a um termo anterior — o antecedente.

Formas dos pronomes relativos

  • 1. Os pronomes relativos apresentam:
    • a) formas variáveis e invariáveis
    • VariáveisInvariáveis
      masculinofeminino
      o qualos quaisa qualas quaisque
      cujocujoscujacujasquem
      quantoquantosquantaquantasonde
    • b) formas simples: quequemcujoquanto e onde;

    • c) forma composta: o qual

  • 2. Antecedido das preposições a e de, o pronome onde com elas se aglutina, produzindo as formas aonde e donde.
  • Todos os pronomes relativos podem ser substituídos por o qual, a qual, os quais e as quais. A exceção é o pronome cujo, que é exclusivamente pronome relativo.

Natureza do antecedente

antecedente do pronome relativo pode ser:
  • a) um substantivo:
  • Deem-me as cigarras que eu ouvi menino. (M. Bandeira)

  • b) um adjetivo:
  • As opiniões têm como as frutas o seu tempo de madureza em que se tornam doces de azedas ou adstringentes que dantes eram. (Marquês de Maricá)

  • c) um pronome:
  • O que aconteceu à noite foi maravilhoso. (C. D. de Andrade)

  • d) um advérbio:
  • Aí, aqui onde estou,
  • no gancho do carvalho,
  • javali me comeu
  • e só resta de mim
  • este grito de horror. (C. D. de Andrade)

  • e) uma oração resumida pelo pronome demonstrativo o:
  • Acomodar-se-iam num sítio pequeno, o que parecia difícil a Fabiano, criado solto no mato. (Vidas secas, de Graciliano Ramos)

Função sintática dos pronomes relativos

Os pronomes relativos assumem um duplo papel no período por representarem um determinado antecedente e servirem de elo subordinante da oração que iniciam. Por is-so, ao contrário das conjunções, que são meros conectivos, e não exercem nenhuma função interna nas orações por elas introduzidas, mas apenas um valor semântico, estes pronomes desempenham sempre uma função sintática nas orações a que pertencem. Podem ser:
  • 1Sujeito:
  • Quero ver do alto o horizonte,
  • Que foge sempre de mim. (O. Mariano)
  • [que = sujeito de foge]

  • 2Objeto direto:
  • De novo concentrou a atenção no que a amiga lhe dizia. (E. Veríssimo)
  • [que = objeto direto de dizia]

  • 3Objeto indireto:
  • Eu aguardava com uma ansiedade medonha esta cheia de que tanto se falava. (J. L. do Rego)
  • [de que = objeto indireto de falava]

  • 4Predicativo:
  • Reduze-me ao pó que fui. (C. Meireles)
  • [que = predicativo do sujeito eu, oculto].

  • 5Adjunto adnominal:
  • Um dia entrei num desses esconderijos subterrâneos a cuja entrada eles às vezes semeiam víboras vivas... (E. Veríssimo)
  • [cuja = adjunto adnominal de entrada]

  • 6Complemento nominal:
  • Foi o último milagre da Penha de que tive notícia. (V. de Moraes)
  • [de que = complemento nominal de notícia]

  • 7Adjunto adverbial:
  • Entrava-se de barco pelo corredor da velha casa de cômodos onde eu morava. (M. Quintana)
  • [onde = adjunto adverbial de morava]

  • 8Agente da passiva:
  • Este é o ministro por quem fui nomeado.
  • [por quem = agente da passiva do verbo nomear]
Observação:
Note-se que o relativo cujo funciona sempre como adjunto adnominal e o relativo onde, apenas como adjunto adverbial.

Valores e empregos dos relativos

Que
  • 1Que é o relativo básico. Usa-se com referência a pessoa ou coisa, no singular ou no plural, e pode iniciar orações:
    • a) subordinadas adjetivas restritivas:
    • Os amigos que me restam são de data recente. (M. de Assis)

    • b) subordinadas adjetivas explicativas:
    • O ministro, que acabava de jantar, fumava calado e pacífico. (M. de Assis)
  • 2. Por vezes, o antecedente de que está subentendido:
  • Esta palavra doeu-me muito, e não achei logo que lhe replicasse. (M. de Assis)
  • isto é, palavra (aquilo, o) que lhe replicasse.
Qual, o qual
  • 1. Nas orações subordinadas adjetivas explicativas com antecedente substantivo, o pronome que, pode ser substituído por o qual (a qualos quaisas quais):
  • Durante o seu domínio, todavia, acentua-se a evolução do latim vulgar, falado na península, o qual vinha de há muito diversificando-se em dialetos vários. (J. Cortesão)

  • 2. Esta substituição pode ser um recurso de estilo, isto é, pode ser aconselhada pela clareza, pela eufonia, pelo ritmo do enunciado. Mas há casos em que a língua prefere o emprego da forma o qual.
Precisando melhor:
  • a) o relativo que emprega-se, preferentemente, depois das preposições monossilábicas acomdeem e por:
  • A noitinha em que nos encontramos e em que eu colhi os ramos de murta foi seguida do jantar, a que ela compareceu. (A. Peixoto)

  • b) as demais preposições simples, essenciais ou acidentais, bem como as locuções prepositivas, constroem-se, obrigatória ou predominantemente, com o pronome o qual:
  • É uma velha mesa esta sobre a qual bato hoje a minha crônica. (V. de Moraes)

  • c) o qual é também a forma usada como partitivo após certos indefinidos, numerais e superlativos:
  • O bloqueio do oceano distribuiu-se por três esquadras duas das quais dividiram entre si o litoral do Atlântico. (R. Barbosa)
Quem
Só se emprega com referência a pessoa ou alguma coisa personificada e vem sempre antecedido de preposição:
Há um amigo meu a quem apelidaram "Mal Necessário". (V. Moraes) 

Cujo
É equivalente pelo sentido a do qualde quemde que. Emprega-se apenas como pronome adjetivo, referindo-se a um termo antecedente (o possuidor) e a um consequente (a coisa possuída). Concorda em gênero e número com o termo consequente. Os clássicos usavam sem antecedente expresso, uso herdado de um adjetivo existente no latim.
Herculano é para mim, nas letras,depois de Camões, a figura em cujo espírito e em cuja obra sinto com plenitude o gênio heroico de Portugal. (G. Amado) 

Quanto
Quanto, como simples relativo, tem por antecedente os pronomes indefinidos tudo, tantos (ou tantas)todos (ou todas). Daí seu valor também indefinido:
Soprava dum lado, do outro, e tudo quanto foi de garrancho e folha seca se juntou num canto só. (L. Jardim) 
Compre tanto quanto puder para a festa.

Onde
  • 1. Como desempenha normalmente a função de adjunto adverbial (= o lugar em que, no qual), tanto para lugar real quanto para lugar virtual, onde costuma ser considerado por alguns gramáticos advérbio relativo com valor pronominal:
  • A casinha em que morei no Curvelo (e onde depois morou Raquel de Queirós) foi posta abaixo. (M. Bandeira)

  • 2. Embora a ponderável razão de maior clareza idiomática justifique o contraste que a disciplina gramatical procura estabelecer, na língua culta contemporânea, entre onde (= o lugar em que) e aonde (= o lugar a que), cumpre ressaltar que esta distinção, praticamente anulada na linguagem coloquial, nunca foi rigorosa nos clássicos.
Não é, pois, de estranhar o emprego de uma forma por outra em passos como os seguintes:
Vela ao entrares no porto
Aonde o gigante está! (F. Varela) 

Espiando-se no pendor dos boqueirões profundos, /
Onde vinham ruir com fragor as cascatas. (O. Bilac)

Podem funcionar como pronomes relativos as seguintes palavras:

como - quando tem por antecedente as palavras modo, maneira, forma ou jeito
quando - quando tem por antecedente alguma palavra que indica tempo

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