"Tenho que o correto é bacharela, mas tenho lido e ouvido 'a bacharel Fulana', bem como a cônsul, a embaixadora, a poeta. As primeiras referindo-se ao cargo ocupado por mulher. Consulesa, embaixatriz são as esposas do cônsul e do embaixador. Entendo que as esposas deles são nada. Esposa de rei não é rainha, esposa de desembargador não é desembargadora. Estudei no Grupo Escolar Dona Izabel Branco, em Jaguariaíva/PR, que feminino de cônsul é consulesa, de poeta é poetisa, de embaixador é embaixatriz. Qual o correto? Migalhas errou?"
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Bacharela
1) Silveira Bueno entende que tal substantivo é comum-de-dois, como cliente, agente e assistente, de modo que a mesma forma seria usada no masculino e no feminino, apenas se alterando o artigo: o bacharel, a bacharel.1
2) Também optando por considerá-lo comum-de-dois gêneros, Geraldo Amaral Arruda vê no feminino bacharela uma "solução inferior", uma forma "de evidente formação popular e de caráter jocoso", lembrando que Caldas Aulete lhe dá o significado de mulher palradora ou sabichona.2
3) O gramático 'cômico', igual ao Zé Lezin, Luiz Antônio Sacconi, por seu lado, sem comentários adicionais, insere-o entre os vocábulos que têm um feminino próprio: bacharela.3
4) Cândido Jucá Filho, de igual modo, esclarece que Mário Barreto emprega o feminino bacharela.4
5) Também Luís A.P. Vitória confere-lhe o feminino bacharela.5
6) Cândido de Oliveira tem igual proceder.6
7) Em outra obra, Cândido de Oliveira, após observar que, até há pouco, a maioria de nomes dessa natureza era considerada comum-de-dois gêneros, acrescenta textualmente que é "de lei, assim para o funcionalismo federal como estadual, e de acordo com o bom senso gramatical, que nomes designativos de cargos e funções tenham flexão: uma forma para o masculino, outra para o feminino".
8) Por essas razões, em seu exemplário, ao masculino bacharel contrapõe ele o feminino bacharela.7
9) Silveira Bueno, por um lado, traz antigo ensinamento de J.Silva Correia, diretor da Faculdade de Letras de Lisboa: "Nos últimos tempos têm surgido numerosas formas femininas, que a língua de épocas não distantes desconhecia, - e que são como que o reflexo filológico do progresso masculinístico da mulher, - hoje com franco acesso a carreiras liberais, donde outrora era sistematicamente excluída".
10) Por outro lado, também aduz tal autor curiosa lição de Lebierre: "Os gramáticos preceituam que os substantivos designativos de certas profissões, a maior parte das vezes exercidas por homens, conservem a forma masculina para a maioria de tais substantivos".
11) E conclui ele próprio: "Os gramáticos, que defenderam a conservação, no masculino, dos nomes de cargos outrora exercidos por homens e já agora também por senhoras, não tinham razão porque tais nomes são meros adjetivos como escriturário, secretário, deputado, senador, prefeito, podendo concordar com o sexo da pessoa que tal cargo exerce e não com o gênero dos nomes de tais profissões".
12) E preconiza que se diga bacharela, se tal posto é entregue a uma senhora.8
13) Domingos Pachoal Cegalla preconiza a possibilidade de emprego, no feminino, tanto de bacharel como de bacharela: "Aurélio dá o feminino bacharela, forma usada por Ciro dos Anjos, em seu romance Abdias...Todavia, não nos parece incorreto não flexionar em gênero o substantivo em foco e escrever: 'A bacharel em Direito Eunice Paiva é viúva?' (Luís Fernando Furquim)".9
14) Dirimindo dúvidas acerca da possibilidade de emprego do feminino bacharela, é de se anotar que se encontra ele registrado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa" da Academia Brasileira de Letras, que é veículo oficial indicador das palavras existentes em nosso idioma, estando autorizado, por conseguinte, seu normal emprego;10 anote-se, todavia, que lá se registra apenas tal palavra como substantivo feminino, o que implica asseverar que não é aceita como comum-de-dois-gêneros.
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